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Kit de ornitólogo tem espingarda e iPod
Biólogo paulista radicado na Amazônia coordena o levantamento sobre a biodiversidade nas florestas da Calha Norte
Expedições recolhem dados para mapa da distribuição de espécies que servirá de subsídio para definir áreas prioritárias de conservação
DO ENVIADO A MONTE ALEGRE (PA)
O "kit básico" que o ornitólogo Alexandre Aleixo usa para
fazer o levantamento de biodiversidade de aves na Calha
Norte faz com que seu traje ganhe o volume do de um soldado. Ao entrar no mato, ele leva
binóculo, microfone direcional,
gravador, alto-falante, bloco de
anotações, marmita, cantil e
uma espingarda de dois canos
meio antiga -propriedade do
Museu Paraense Emílio Goeldi, ao qual é afiliado. O único
equipamento com ar moderno
é um tocador de MP3 iPod.
"Aqui estão gravados mais de
5.000 cantos de pássaros do
Norte da Amazônia", conta o
pesquisador, que usa a compilação digital para "tirar dúvidas" sobre os sons que ouve durante a expedição. O alto-falante acoplado ao iPod toca os cantos gravados para "chamar" as
aves, que se aproximam para
serem vistas e catalogadas.
Quase todo o registro de espécies que povoam a área, porém, é feito apenas de ouvido
pelo biólogo, capaz de diferenciar contornos melódicos de
centenas de cantos. Parte do talento veio das aulas de piano na
infância e na adolescência, prelúdio de uma carreira musical
que não vingou. "Eu era muito
indisciplinado", conta Aleixo.
A preguiça de estudar, porém, desapareceu com a paixão
pela biologia. Durante os seis
dias em que a Folha esteve em
seu acampamento na reserva
do Maicuru, o biólogo entrava
no mato às 6h00 e só voltava às
18h00. Ensopado de suor, trazia o bloco de anotações cheio e
carregava algumas aves abatidas para a coleção do museu.
O trabalho de Aleixo era
complementado pelo de Marcelo de Castro Silva, que capturava pássaros com redes. O
destino de quase todos era o
empalhamento. "Dá mesmo
pena", reconhece Silva, mesmo
consciente da importância da
coleta. O mapeamento que os
biólogos fazem na Calha Norte
agora é que vai definir as áreas
prioritárias para conservação
na região. Uma escolha errada
feita hoje pode significar a extinção de uma ave no futuro.
"Só dá para fazer zoologia
com o rigor científico necessário capturando os espécimes-testemunho", afirma Aleixo.
"Toda a biologia de conservação não tem o privilégio de poder pensar no nível de indivíduos."
(RAFAEL GARCIA)
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