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Dados pouco convincentes criam polêmica
Isabel Gerhardt
da Reportagem Local
À
primeira vista, gerar polêmica parece ser a razão pela qual os autores
escreveram o livro "A Natural History of
Rape". Soa revoltante o argumento de
que o estupro pode ser um mecanismo
evolutivo desenvolvido para aumentar o
sucesso reprodutivo de homens que, de
outra forma, não teriam acesso a mulheres. Mas soar revoltante pode ser uma
afirmação tão vaga quanto a de Randy
Thornhill e Craig Palmer. É preciso que
se argumente com dados precisos.
O antropólogo Luiz Eduardo Abreu, da
Universidade de Brasília, considerou o
trabalho dos autores "pseudociência".
"Com uma linguagem aparentemente
científica, baseada em estatísticas e num
enorme banco de dados, o resultado final é menos que ciência", afirmou.
"Thornhill usa como exemplo o comportamento das moscas-escorpião: a fêmea escolhe o macho que lhe traz um
presente nupcial. Se o macho não tem o
presente, a fêmea foge dele, e ele não tem
outra alternativa senão tomá-la à força, o
que significa que ele a estupra. Supondo
que as observações sobre o comportamento das moscas-escorpião estejam
corretas, isso não lhe permite fazer nenhuma das afirmações realizadas", disse.
Ele oferece ainda outras hipóteses que
justificariam o comportamento das
moscas-escorpião: a) É um ritual de acasalamento; b) A fêmea quer escolher o
parceiro que tem maior probabilidade
de possuir uma herança genética saudável (a demonstração disso é a capacidade
de o macho conseguir comida ou copular com ela mesmo contra a sua reação
violenta); c) Há duas maneiras pelas
quais as fêmeas sentem prazer: uma é comendo antes da cópula, a outra é quando
ela é caçada pelo macho.
Segundo Abreu, de todas as hipóteses
possíveis, os autores escolheram a de que
o macho estupra a fêmea. "Como dizia
Popper (Karl Popper, filósofo austríaco),
é fácil encontrar confirmações para qualquer teoria, desde que a procuremos. Os
argumentos dos autores, em vez de nos
fornecer uma demonstração científica,
respondem a uma outra necessidade, de
ordem ideológica: encontrar uma causa
biológica para o comportamento humano, como se tudo pudesse ser reduzido à
genética e por ela explicado", concluiu.
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