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+ ciência Desenvolvimento
Produção científica do país cresce 160% de 1995 até 1998; para presidente da
Fapesp, resultados podem ser melhores com a colaboração do setor privado
Cresce a pesquisa no Brasil
Gabriela Scheinberg
da Reportagem Local
A ciência no Brasil vem crescendo
aceleradamente desde 1990. A cada
ano, o número de trabalhos científicos
publicados no país (método usado para
avaliar a produção científica) cresce quase que exponencialmente, de acordo
com Carlos Henrique Brito da Cruz, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Mas, segundo ele, para que o crescimento seja ainda maior, falta mais envolvimento das empresas privadas. "O
apoio da iniciativa privada não deve fomentar a pesquisa das universidades",
explica Cruz. "Esse setor precisa fazer a
sua própria pesquisa."
O número de trabalhos científicos publicados pelo Brasil passou de 2.000 por
ano, na década de 80, para 9.000 em 1999.
De 1995 até 1998, a produção científica
brasileira cresceu 160%.
E esse aumento não é uma tendência
mundial. Segundo Cruz, o Brasil é o segundo país que mais cresceu em produção científica, perdendo apenas para a
Coréia do Sul. O crescimento da ciência
na Coréia seria resultante de um aumento nos gastos em educação, ciência e tecnologia.
No Brasil, o aumento não foi nas verbas, mas em recursos humanos. "É bem
notável como o crescimento de produção científica do Brasil se inicia exatamente por volta de 1989, justamente na
época em que o governo passou a incrementar fortemente e a valorizar a questão das bolsas para pós-graduação", diz.
O Brasil tem hoje um número maior de
cientistas capacitados, em grande parte
por causa das bolsas para doutorado e
mestrado, oriundas do governo federal
-do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Fomento privado
A formação de
cientistas, no entanto, não foi acompanhada de um aumento nas verbas destinadas à pesquisa, principalmente nos recursos para custeio -compra de material e equipamento.
"O sistema federal brasileiro tem sido
muito deficiente, especialmente no período de 1992 até agora", explica Cruz.
Ele indica que, a partir de 1990, houve
um decréscimo do orçamento disponível para custeio no sistema federal. Os
programas criados para esse fim durante
a última década, como o Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência), foram destinados a áreas ou a grupos de pesquisa específicos.
"O crescimento de pesquisadores qualificados não foi acompanhado de um
crescimento nas verbas para custear as
pesquisas", diz Cruz.
Segundo o presidente da Fapesp, uma
parte das verbas deveria vir da iniciativa
privada.
Para ele, seria necessário que as empresas contratassem seus próprios cientistas
para fazer pesquisas. Mas isso não acontece. "A empresa no Brasil tem pouca
cultura de valorizar o conhecimento e o
desenvolvimento tecnológico."
Ele diz acreditar que a instabilidade
econômica crônica que tem havido no
país desestimula as empresas a investir
em projetos cujo retorno acontecerá a
longo prazo.
Outro fator que contribui para a falta
de investimento privado no país seria a
taxa de juros. "Se um empresário precisa
decidir entre criar um centro de pesquisas ou pôr dinheiro no banco e esperar
render 25% no ano, é mais fácil colocar o
dinheiro no banco."
Ele cita também uma ausência de capital de risco no Brasil: uma provável consequência da instabilidade econômica
do país, o que resulta em menos investimentos para pesquisa.
"Falta no Brasil a empresa se envolver.
Quem faz a passagem da ciência (teoria)
para a tecnologia (prática) quase sempre
é a empresa, porque é ela quem produz, e
não a universidade."
Uma outra forma de financiar as pesquisas públicas seria o patrocínio das
empresas privadas. "Seria bom se acontecesse, mas não é bom mitificar essa
possibilidade a ponto de acreditar que o
patrocínio das empresas vai substituir o
financiamento do Estado para a pesquisa
das universidades", diz. "Isso é um equívoco muito grave que eu tenho observado que acontece no Brasil."
Ele explica que se criou a idéia de que o
governo não tem dinheiro para financiar
pesquisas e, por isso, as universidades
deveriam buscar o financiamento na
empresa. "Mas isso é errado. Nunca vai
acontecer. A pesquisa que se faz na universidade é um tipo de pesquisa que precisa ser financiada pelo governo."
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