São Paulo, domingo, 12 de março de 2000


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+ ciência Desenvolvimento
Produção científica do país cresce 160% de 1995 até 1998; para presidente da Fapesp, resultados podem ser melhores com a colaboração do setor privado
Cresce a pesquisa no Brasil

Gabriela Scheinberg
da Reportagem Local

A ciência no Brasil vem crescendo aceleradamente desde 1990. A cada ano, o número de trabalhos científicos publicados no país (método usado para avaliar a produção científica) cresce quase que exponencialmente, de acordo com Carlos Henrique Brito da Cruz, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Mas, segundo ele, para que o crescimento seja ainda maior, falta mais envolvimento das empresas privadas. "O apoio da iniciativa privada não deve fomentar a pesquisa das universidades", explica Cruz. "Esse setor precisa fazer a sua própria pesquisa." O número de trabalhos científicos publicados pelo Brasil passou de 2.000 por ano, na década de 80, para 9.000 em 1999. De 1995 até 1998, a produção científica brasileira cresceu 160%. E esse aumento não é uma tendência mundial. Segundo Cruz, o Brasil é o segundo país que mais cresceu em produção científica, perdendo apenas para a Coréia do Sul. O crescimento da ciência na Coréia seria resultante de um aumento nos gastos em educação, ciência e tecnologia. No Brasil, o aumento não foi nas verbas, mas em recursos humanos. "É bem notável como o crescimento de produção científica do Brasil se inicia exatamente por volta de 1989, justamente na época em que o governo passou a incrementar fortemente e a valorizar a questão das bolsas para pós-graduação", diz. O Brasil tem hoje um número maior de cientistas capacitados, em grande parte por causa das bolsas para doutorado e mestrado, oriundas do governo federal -do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Fomento privado
A formação de cientistas, no entanto, não foi acompanhada de um aumento nas verbas destinadas à pesquisa, principalmente nos recursos para custeio -compra de material e equipamento.
"O sistema federal brasileiro tem sido muito deficiente, especialmente no período de 1992 até agora", explica Cruz. Ele indica que, a partir de 1990, houve um decréscimo do orçamento disponível para custeio no sistema federal. Os programas criados para esse fim durante a última década, como o Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência), foram destinados a áreas ou a grupos de pesquisa específicos.
"O crescimento de pesquisadores qualificados não foi acompanhado de um crescimento nas verbas para custear as pesquisas", diz Cruz.
Segundo o presidente da Fapesp, uma parte das verbas deveria vir da iniciativa privada.
Para ele, seria necessário que as empresas contratassem seus próprios cientistas para fazer pesquisas. Mas isso não acontece. "A empresa no Brasil tem pouca cultura de valorizar o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico."
Ele diz acreditar que a instabilidade econômica crônica que tem havido no país desestimula as empresas a investir em projetos cujo retorno acontecerá a longo prazo.
Outro fator que contribui para a falta de investimento privado no país seria a taxa de juros. "Se um empresário precisa decidir entre criar um centro de pesquisas ou pôr dinheiro no banco e esperar render 25% no ano, é mais fácil colocar o dinheiro no banco."
Ele cita também uma ausência de capital de risco no Brasil: uma provável consequência da instabilidade econômica do país, o que resulta em menos investimentos para pesquisa.
"Falta no Brasil a empresa se envolver. Quem faz a passagem da ciência (teoria) para a tecnologia (prática) quase sempre é a empresa, porque é ela quem produz, e não a universidade."
Uma outra forma de financiar as pesquisas públicas seria o patrocínio das empresas privadas. "Seria bom se acontecesse, mas não é bom mitificar essa possibilidade a ponto de acreditar que o patrocínio das empresas vai substituir o financiamento do Estado para a pesquisa das universidades", diz. "Isso é um equívoco muito grave que eu tenho observado que acontece no Brasil."
Ele explica que se criou a idéia de que o governo não tem dinheiro para financiar pesquisas e, por isso, as universidades deveriam buscar o financiamento na empresa. "Mas isso é errado. Nunca vai acontecer. A pesquisa que se faz na universidade é um tipo de pesquisa que precisa ser financiada pelo governo."


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