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Revolução aeróbica
Fim de era de vulcanismo foi o que matou os micróbios que que impediam o sucesso da vida movida a oxigênio, indica análise de rocha
STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"
Ele foi uma das mudanças mais importantes
ocorridas na atmosfera terrestre e foi a razão pela qual hoje nós
podemos respirar o oxigênio
vitalizante. Ainda assim, o
evento conhecido como a
"grande oxidação" permaneceu um mistério até agora.
Sem oxigênio, a vida na Terra
não existiria da forma como a
conhecemos. Ele é componente do ar supercarregado que
alimentou a explosão de diversidade e tamanho de todos os
organismo vivos, do menor camarão ao maior dinossauro.
Cerca de 21% do ar é oxigênio, ingrediente vital para organismos vivos adotarem o
método mais eficiente de converter comida em energia,
usando a respiração aeróbica. A
atmosfera rica em oxigênio,
porém, não esteve sempre
aqui, e a explicação sobre como
ela surgiu escapou de várias gerações de cientistas.
Uma equipe de pesquisadores liderados por Kurt Konhauser, da Universidade de
Alberta em Edmonton (Canadá), porém, acaba de apresentar uma explicação convincente sobre por que o oxigênio começou a se acumular de repente na atmosfera primordial da
Terra, há cerca de 2,7 bilhões
de anos, quando a vida consistia em nada mais complexo do
que micróbios unicelulares.
A grande oxidação aconteceu, eles acreditam, quando
um grupo de micróbios destruidores de oxigênio começou
a se extinguir, permitindo um
grupo de micróbios produtores
de oxigênio entrar em ascensão. O gatilho desse evento foi
uma queda nos níveis do metal
níquel nos organismos, que levou a um inexorável aumento
do oxigênio e da vida na Terra.
O papel do níquel na história
do oxigênio atmosférico é novo. Se Kohnauser e seus colegas estiverem certos, isso poderia explicar não apenas a evolução súbita da vida, mas a própria feição da Terra, porque o
poder corrosivo do oxigênio foi
crucial para moldar rochas,
formar rios e recortar litorais.
"A grande oxidação foi o que
mudou os ambientes de superfície de modo irreversível na
Terra e, por fim, tornou possível a vida avançada" diz Dominic Papineau, da Instituição
Carnegie, de Washington. "Foi
a maior virada já ocorrida na
evolução da vida em nosso planeta, e estamos chegando perto
de entender como ela ocorreu."
Super-reatividade
O oxigênio em forma de molécula é tão reativo que logo desaparece, a menos que seja produzido constantemente. A concentração de oxigênio na atmosfera hoje é mantida pelas
plantas que realizam fotossíntese -a conversão de luz solar
em energia química e oxigênio.
Acredita-se que os primeiros
micróbios fotossintetizantes,
as "algas azuis" ou cianobactérias, evoluíram 300 milhões de
anos antes do evento da grande
oxidação há 2,5 bilhões de anos.
Mas o oxigênio que elas produziam era rapidamente destruído pelo gás metano exalado por
bactérias metanogênicas, que
estavam em número muito
maior. Elas podiam respirar
sem oxigênio usando um método menos eficiente de respiração, o anaeróbico.
Essas bactérias metanogênicas -que ainda vivem em ambientes inundados e pobres em
oxigênio, como pântanos- precisam de níquel para sobreviver. Sem um suprimento rico
do metal, enzimas vitais desses
micróbios produtores de metano são sabotadas.
Ao analisar um tipo de rocha
sedimentar, as formações com
bandas de ferro, cientistas descobriram que poderiam descobrir o nível de níquel nos oceanos da Terra em épocas tão antigas quanto 3,8 bilhões de anos
atrás. E havia uma marcante
redução no níquel entre 2,7 bilhões e 2,5 bilhões de anos atrás
-o mesmo período da grande
oxidação.
"A data se encaixa bem. O declínio do níquel pode ter preparado o cenário para a grande
oxidação", diz Papineau. "Pelo
que sabemos sobre metanogênicos vivos, níveis menores de
níquel podem cortar a produção de metano. A conexão com
o níquel é algo que ninguém havia levado em consideração antes, mas nosso estudo indica
que ela pode ter tido um grande
impacto no ambiente da Terra
e na história da vida."
Konhauser diz que seu estudo, publicado na revista "Nature", sustenta a ideia de que os
micróbios produtores de metano impediram o oxigênio de se
acumular na atmosfera primitiva por centenas de milhões de
anos. Cientistas acreditam que
o nível de níquel caiu porque a
crosta da Terra resfriou durante esse período, o que significa
que havia menos níquel sendo
ejetado por erupções vulcânicas para dentro do oceano.
"Analisando rochas em formações com bandas de ferro,
estamos certos de que há cerca
de 2,5 bilhões de anos o níquel
se reduziu para cerca de metade do nível anterior. A questão
é como os micróbios metanogênicos reagiram a essa queda.
Acreditamos que eles tenham
morrido", diz Konhauser.
Apesar de a grande oxidação
não ter levado a um aumento
súbito do oxigênio aos níveis
que encontramos hoje, ela causou um aumento significativo,
que nunca mais se reverteu.
Tradução de RAFAEL GARCIA
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