São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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Começa nos EUA teste de células de embriões

Primeiro paciente já recebeu forma experimental da terapia, diz firma

Empresa americana vai testar segurança do tratamento em grupo de dez pacientes; objetivo é tratar paraplégicos

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

O primeiro ser humano a ser tratado com células-tronco embrionárias é um paciente de Atlanta, na Geórgia (sul dos EUA), que se tornou paraplégico depois de uma lesão na medula espinhal.
Trata-se da primeira entre cerca de dez pessoas com paralisia que receberão o tratamento experimental, oferecido pela empresa americana Geron, nos próximos meses. A identidade do doente não foi revelada por enquanto.
A Geron anunciou ontem o início dos testes, sem dar mais detalhes sobre o paciente além do fato de ele estar internado no Shepherd Center, hospital e centro de pesquisa especializado em lesões espinhais e cerebrais.
Para serem incluídos no teste clínico, o primeiro de seu tipo no mundo, os doentes escolhidos não podem ter sofrido os ferimentos paralisantes mais de 15 dias antes do transplante das células.
Acredita-se que essa seja a "janela de oportunidade" do organismo, antes que a cicatrização das lesões leve ao fechamento definitivo dos caminhos pelos quais os impulsos elétricos passavam pelos nervos antes do acidente.

FAZ-TUDO
Fazer com que a passagem de sinais nervosos volte a funcionar é a principal missão das células-tronco embrionárias humanas.
Obtidas a partir de embriões com poucos dias de vida (veja quadro acima, à direita), sua principal característica é a versatilidade: conseguem se transformar em quase qualquer tipo de tecido do organismo, dos músculos ao pâncreas (a única exceção é a placenta, derivada de uma região diferente do embrião, o trofoblasto).
Em particular, a equipe da Geron está transformando as células-tronco de embriões em oligodendrócitos, uma "família" de células do sistema nervoso cujo principal papel é montar a fiação dos nervos, por assim dizer.
Nas pessoas com lesão medular, é como se essa fiação tivesse sido cortada. Dependendo da altura do corte ao longo da espinha, a paralisia atinge só as pernas ou todos os membros do paciente.
Apesar da promessa terapêutica representada pelas células embrionárias, sua utilização continua marcada pela polêmica. Como o primeiro passo para utilizá-las envolve a destruição de embriões humanos, a Igreja Católica e outras denominações cristãs consideram que seu uso equivale a assassinato.
Tal condenação religiosa vale também para embriões que sobraram em tratamentos de fertilização in vitro e acabariam sendo descartados pelas clínicas especializadas nesse procedimento.
O teste clínico da Geron cai na categoria de fase 1, a mais preliminar da pesquisa médica em seres humanos. O objetivo agora é testar a segurança do procedimento, e não avaliar se é eficaz, embora dados sobre esse ponto também possam ser recolhidos.


Com Reuters


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