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Cartilha pede reação violenta a índios e ribeirinhos da região
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Uma cartilha bancada por
ONGs incentiva índios e ribeirinhos a resistir violentamente
caso o governo federal implante um complexo de cinco hidrelétricas na bacia do rio Tapajós,
entre Amazonas e Pará.
A publicação contém o desenho -segundo o crédito, feito
por um adolescente- de um índio carregando a cabeça cortada de um homem branco e diálogos de histórias em quadrinhos que incentivam a luta
contra a "Eletromorte" -uma
referência à Eletronorte, subsidiária da Eletrobras na região.
Feita em janeiro deste ano,
mas só lançada no último dia 1º,
a cartilha pretende elucidar as
"verdades e mentiras sobre o
projeto" e vem sendo distribuída para movimentos sociais e
comunidades que devem atingidas pelas hidrelétricas.
Foram impressos 10 mil
exemplares da cartilha (6.000
já distribuídos), ao custo de R$
22 mil, segundo seu criador, o
padre de Santarém (1.431 km
de Belém) Edilberto Sena.
O dinheiro veio, entre outros
meios, de um projeto com recursos da Ford Foundation gerenciado pela Fase (Federação
de Órgãos para Assistência Social e Educacional), fundada
por religiosos, e da Aliança Missionária Francisclariana.
A cartilha é feita de capítulos,
como "O porquê de tantas hidrelétricas", nos quais o projeto
é explicado e criticado.
Cada parágrafo é iniciado
com a ilustração de uma marca
de mão ensanguentada ou um
círculo escorrendo sangue. Entre um capítulo e outro, aparecem histórias em quadrinhos,
direcionadas a quem tem "menos estudo", disse Sena.
Em um delas, uma personagem índia conversa com uma
religiosa, a "irmã Marisol", sobre as hidrelétricas.
"Preocupada" com as obras, a
índia faz expressão de ódio e fala: "Mulher índia ajudar homem índio a flechar e cortar a
cabeça de pariuat [branco] inimigo. Índia sabe usar facão.
Nós não queremos hidrelétrica". A personagem da religiosa
diz: "Olha, filha, se deixarmos
eles soltos, a Eletronorte quer
afogar terras dos índios."
Uma imagem de decapitação
surge também no início da cartilha, em um desenho feito por
dois meninos da etnia mundurucu, que estudam na 8ª série.
Nos quadrinhos, peixes conversam temendo sua extinção.
Outra ilustração mostra o ex-ministro de Minas e Energia
Edison Lobão como um lobo
mau, que usa terno e gravata e
afirma que não quer se "ajoelhar aos pés do Ibama para conseguir licença ambiental".
O padre Sena defendeu a cartilha e disse que a violência
vem, na verdade, do governo.
"Se um ladrão entra em sua casa e você acorda, defende sua
propriedade e ele morre, quem
cometeu o crime?", afirmou.
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