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COPENHAGUE 2009
"Concessão" vira palavra de ordem
Presidente da COP-15 afirma que encontro pode fracassar se países não cederem nos próximos dias
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nações precisam parar de trocar acusações e passar a agir com bom senso e coragem
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A COPENHAGUE
A conferência do clima de
Copenhague pode falhar, mesmo que nenhum país queira
que isso aconteça. O alerta foi
feito pela presidente da COP-15, Connie Hedegaard, na cerimônia de abertura da reunião
de ministros e chefes de Estado, o ápice do encontro. "A palavra-chave dos próximos dias
precisa ser "concessão'", disse a
dinamarquesa, ao lado do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do premiê da Dinamarca, Lars Rasmussen.
"Agora é hora de bom senso,
concessão e coragem", disse
Ban mais tarde, demandando
aos países que parem de apontar o dedo um para o outro.
Concessão foi tudo o que não
se viu em Copenhague ao longo
dos últimos dez dias. A reunião
diplomática, como previsto,
não avançou. Os principais poluidores do mundo, EUA e China, limitaram-se a trocar acusações. O rascunho de acordo
que os ministros recebem hoje
joga no colo deles as decisões
sobre todos os pontos importantes: metas para países desenvolvidos, compromissos de
redução para países em desenvolvimento e sua verificação e,
principalmente, dinheiro.
Só um bode parece ter sido tirado da sala: reunida com
ONGs, Hedegaard teria garantido que o Protocolo de Kyoto
terá um segundo período.
No texto do LCA (grupo negociador que trata dos termos
do novo acordo) que circulou
ontem, cada um desses itens
cruciais aparece como "a ser
elaborado". "Pulou de esfera",
disse Luiz Alberto Figueiredo
Machado, negociador-chefe do
Brasil. "As decisões mais complicadas vão para os ministros e
talvez para os presidentes."
Uma das decisões que ficarão
para os ministros é sobre o
MRV, sigla para "mensurável,
reportável e verificável". Os
emergentes, como o Brasil, resistem a abrir o cumprimento
das metas a verificação internacional. Preferem falar em verificação de ações, temendo punição por não-cumprimento.
Outra, claro, são as metas para os países desenvolvidos, que
precisam ir de 25% a 40% de redução em relação aos níveis de
1990. O negociador-chefe dos
EUA, Todd Stern, disse que
ninguém deveria esperar que
seu país adotasse meta maior
do que os 4% em relação a 1990
em análise no Senado. Segundo
ele, isso é mais do que o que a
Europa propõe (de 20% a 30%).
Uma solução possível para o
impasse que tem sido ventilada
em Copenhague é estabelecer
que os norte-americanos adotem um ano diferente para
atingir a meta, já que, pela lei
americana de mudança climática, o corte é pífio até 2020,
mas se aprofunda até 2030.
A principal decisão que deverá ser tomada pelos chefes de
Estado -se for- é a questão do
financiamento ao combate à
mudança climática nos países
em desenvolvimento no médio
e longo prazos. Por enquanto, a
única proposta na mesa é o chamado "fast money", o pagamento de US$ 10 bilhões por
ano durante três anos para financiar ações até 2012.
Outro ponto que retrocedeu
em Copenhague foi o acordo do
Redd, o mecanismo de redução
de emissões por desmatamento. Uma manobra dos EUA incluiu no texto a hipótese de
compra de créditos por projetos "avulsos" nos países tropicais, mesmo que estes não sejam contabilizados na redução
de emissões daquele país. Isso
facilita o abatimento de eventuais metas dos EUA mesmo
sem redução doméstica.
O Brasil chamou a versão do
documento de "inegociável".
(CLAUDIO ANGELO, LUCIANA COELHO e MARTA SALOMON)
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