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Ferramenta recua ocupação da América
Análise mostra que artefatos datados em 58 mil anos no Piauí foram mesmo feitos por seres humanos
Marcelo Leite - 11.fev.2000/Folha Imagem
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O Boqueirão da Pedra Furada, na Serra da Capivara, no Piauí |
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo apresentado anteontem em um simpósio no
Piauí indica que um polêmico
conjunto de ferramentas de pedra achadas no Boqueirão da
Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, foi mesmo obra de
seres humanos. Com até 58 mil
anos de idade, os instrumentos
são a evidência mais antiga de
povoamento da América.
Durante mais de duas décadas, a arqueóloga Niède Guidon
foi ridicularizada por seus colegas por propor uma idade tão
antiga para as ferramentas.
Mas uma análise apresentada
ontem por Eric Boeda, da Universidade de Paris, e Emílio Fogaça, da Universidade Católica
de Goiás, silenciou os críticos.
"Do meu ponto de vista, esta
é uma evidência incontestável
de que os artefatos foram feitos
por humanos", disse à Folha o
arqueólogo Walter Neves, da
USP, até então principal adversário intelectual de Guidon. Os
artefatos têm causado controvérsia desde a sua descoberta,
em 1978. Eles foram achados
juntamente com supostas fogueiras no abrigo.
O achado causou polêmica
porque nenhuma outra evidência arqueológica ou genética
aponta para um povoamento
do continente anterior a 20 mil
anos. As fogueiras, argumentavam os críticos, poderiam muito bem ter sido produto de
combustão espontânea. "Alguns colegas americanos diziam que os objetos [achados
no Piauí] eram apenas pedras
que tinham rolado e se quebrado naturalmente", diz Guidon.
"O consenso geral é que agora
existe um fato", afirma. "O que
se está discutindo é como esses
homens chegaram aqui."
A polêmica, no entanto, ainda não morreu. "Os dados moleculares indicam uma saída da
África há 55 mil anos. Essa data
é incompatível [com a ocupação antiga da América]", disse o
geneticista Sandro Bonatto, da
PUC do Rio Grande do Sul.
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