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ASTRONOMIA
Pesquisa diz que parte da "matéria escura" é feita de estrelas velhas
Cientistas acham massa "invisível"
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A matéria escura, nome dado à
misteriosa substância que responde por mais de 90% da massa
do Universo, pode não ser tão escura, afinal. Um grupo de cientistas dos Estados Unidos e do Reino
Unido acaba de anunciar a primeira observação direta, aqui
mesmo na Via Láctea, de parte da
massa que faltava para que a cosmologia fizesse sentido.
A idéia da matéria escura surgiu
quando os astrônomos perceberam que havia muito mais força
gravitacional envolvida na evolução do Universo do que a matéria
visível poderia gerar. A massa conhecida só respondia por um décimo dos efeitos observados.
Diante disso, não restava alternativa senão recorrer à lógica de
Sherlock Holmes. Uma das célebres citações do detetive criado
por Arthur Conan Doyle sugere:
"Quando se elimina o impossível,
o que quer que sobre, embora improvável, deve ser a verdade".
Dessa lógica veio a hipótese de
que haveria um tipo de matéria
exótica para completar o Universo, embora não haja nenhuma
evidência direta de sua existência.
O grupo liderado por Ben Oppenheimer, da Universidade da
Califórnia em Berkeley, acaba de
lançar mais lenha nessa fogueira:
ele diz ter visto matéria escura.
Pior: ela nada teria de invisível.
Trata-se de anãs brancas superfrias, estrelas que têm até oito vezes a massa do Sol, em estágio terminal. Após queimarem seu combustível, elas ficam tão apagadas
que é difícil observá-las. "Sim, pela primeira vez realmente vimos
uma fração da matéria escura.
Agora sabemos que ao menos 3%
dessa matéria é composta de anãs
brancas", conta Oppenheimer.
A fração da matéria escura explicada por essas anãs brancas
-estrelas tão velhas quanto a Via
Láctea, localizadas na borda do
disco galáctico- parece pequena, mas o líder da pesquisa aposta
que isso vai aumentar. "Quando
pudermos precisar a população
de anãs brancas, veremos esse número subir. Pode chegar a 35%",
disse, em entrevista à Folha.
Mera coincidência
Sua descoberta é bombástica,
mas o cientista diz não ter parentesco algum com Julius Robert
Oppenheimer, o físico que coordenou a montagem da primeira
bomba atômica -"embora ele
tenha crescido a apenas alguns
quarteirões de onde eu cresci, em
Manhattan, Nova York".
Assim como o outro Oppenheimer, Ben não sabia muito bem
com o que estava lidando, até
concluir o estudo. "A pesquisa era
mais sobre química e física atmosférica de anãs brancas. A parte de matéria escura veio depois."
Embora a matéria observada
pelo grupo não tenha nada de
exótica, o cientista não acredita
que o mistério cosmológico esteja
perto de ser resolvido. "Eu não
acho que toda a matéria escura esteja na forma de matéria normal,
ou bariônica. As teorias que nos
dão a cosmologia do Big Bang parecem claramente mostrar que
deve haver também outras formas de matéria escura."
Por ora, a lógica de Sherlock
Holmes, assim como a reputação
dos astrônomos, permanece acima de qualquer suspeita. O estudo está publicado na edição de
hoje da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
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