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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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DESASTRE EM ALCÂNTARA

Teste de DNA pode ser necessário para identificação de vítimas; moradores de Alcântara não perderam familiares no acidente

Parentes de técnicos perdem esperança

DAS REGIONAIS
DO ENVIADO A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA

O clima entre familiares e amigos dos funcionários do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos (SP), durante a madrugada de ontem foi de aflição e expectativa com a falta de informações sobre as vítimas do acidente com o VLS-1. Alguns, mesmo com informações extra-oficiais, temiam o pior. A situação foi parecida em Alcântara, principalmente entre os familiares dos recrutas da Aeronáutica da base.
Os nomes das 21 vítimas da explosão da plataforma somente foram divulgados por volta das 13h30 de ontem na página da Força Aérea Brasileira na internet (www.fab.mil.br). José Ribamar Cruz Ribeiro, do Instituto de Criminalística do Maranhão, afirmou à agência Reuters que o estado dos corpos exigia testes de DNA para identificá-los.
Pela manhã, no Vale do Paraíba, a mãe do mecânico de aeronave Daniel Faria Gonçalves, 20, já demonstrava poucas esperanças. "Fui procurada pelo CTA e informada que estão procurando por ele, mas que é para esperar o pior", disse a dona-de-casa Aparecida Gonçalves, 54.
Indignada, mesmo antes da confirmação da Aeronáutica, a mãe de Walter Pereira Júnior, 45, técnico do CTA há 28 anos e pai de dois filhos, já havia reservado um jazigo num cemitério da cidade. "O Walter não queria ter ido para Alcântara porque não gostava de ficar muito tempo longe da família", disse Jarina da Silva Pereira, 66.
"É um absurdo mandar alguém para uma missão desse porte sem garantia de nada. Ele não ganhava por insalubridade ou periculosidade. Eu queria é a vida do meu filho de volta. Mas já que isso é difícil, que pelo menos eles paguem à família todos os direitos que não lhe foram pagos em vida."

Esperança
Um avião da Aeronáutica chegou de Alcântara com sobreviventes do acidente por volta das 23h45 de anteontem, mas todos os passageiros, por orientação das Forças Armadas, não puderam falar à imprensa. A ordem dada aos oficiais era de controle rígido na entrada e saída de pessoas do CTA, autorizando apenas que parentes de moradores tivessem acesso ao local.
A informação sobre a chegada do avião fez com que João Santos Filho, 36, fosse ao local para tentar saber da situação de seu cunhado, Gil César Baptista Marques, 42, que integrava a equipe na documentação da missão. Anteontem, a família de César foi avisada que o cinegrafista, funcionário do CTA, estava na lista de desaparecidos, mas que não havia ainda comprovação de sua morte. "Foi por isso que nos animamos e tivemos a esperança de encontrar meu cunhado entre as pessoas que chegavam de Alcântara, mas ele não estava no avião que chegou", disse Santos Filho.

Alcântara
Um plantão na TV, anteontem, por volta das 14h, informou sobre uma explosão na base de Alcântara. A professora Benedita Santos, 45, largou tudo o que fazia na única escola estadual da cidade e correu para casa em busca de informações detalhadas. No trajeto, a pé, avistava a fumaça. Seu filho, Fernando, 18, recruta da Aeronáutica, havia iniciado o turno na base na manhã daquele dia.
"Foi horrível, nossa senhora. Fiquei com dor de cabeça, preocupada, e as notícias chegando, chegando. Depois fiquei um pouco mais aliviada quando disseram que ele [filho] não tinha acesso ao local que foi atingido [pela explosão]. Mesmo assim fiquei muito preocupada", declarou Benedita.
Ontem pela manhã, mesmo tendo informações extra-oficiais de que nenhum alcantarense estava entre as vítimas, a angústia de Benedita continuava. "Meu filho não telefonou, mas acho que nem poderia. Ele deve voltar hoje. Mas só vou me acalmar quando ele colocar os pés dentro de casa."
Sobre o futuro, a professora alcantarense já antecipa sua preocupação. O próprio governo já falou que vai continuar [com os investimentos no programa espacial]. Ai, meu Deus do céu. Isso aí não é tranquilidade pra nenhuma mãe", disse, com a voz trêmula.
A situação administrativa da cidade também não colabora com o clima pós-explosão. Na semana passada, a Justiça decretou o afastamento do prefeito Malalael Moraes (PTB) por improbidade administrativa. Em seu lugar, assumiu a vice, Heloísa Leitão (PFL).
Além disso, os cerca de 600 servidores públicos municipais, desde junho sem receber salários, estão em greve há duas semanas. As escolas de primeiro grau estão fechadas; os hospitais, sem remédios e médicos; e a prefeitura, sem luz e telefone -cortados por falta de pagamento.(ELIANE MENDONÇA, KEILA RIBEIRO, ROBERTO COSSO, EDUARDO SCOLESE E FÁTIMA LESSA)

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