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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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Militar descreve incêndio

ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Era um forno sem parede. Eu olhava para trás e via 300 toneladas de aço sendo consumidas por uma imensa bola de fogo. Uma gigantesca nuvem de gás tóxico se formava em cima de todos nós."
Essa é a descrição da cena do acidente da VLS-1 relatada ontem à Folha por um militar que estava com mais dez pessoas a 400 metros do local onde ocorreu o acidente em Alcântara. Ele falou sob o compromisso de não ter seu nome revelado, porque está proibido de dar entrevistas.
O militar afirmou que não houve explosão, mas uma combustão espontânea. Segundo ele, por alguma razão, os motores entraram em ignição. "No começo, parecia uma coisa corriqueira, mas começamos a ouvir o barulho e corremos." Ou seja, o forte barulho que foi ouvido a vários quilômetros da base de Alcântara era dos motores do VLS-1.
O sobrevivente relatou que todos os profissionais que trabalhavam na base de Alcântara estavam treinados para a hipótese de ocorrer um acidente. Segundo ele, a segurança funcionou perfeitamente. "Todos corremos para a área de segurança, onde ficam médicos e bombeiros."
Questionado sobre se os bombeiros tentaram apagar o incêndio, ele disse que o fogo não é apagável porque foi gerado por um combustível sólido que não necessita de oxigênio para fazer combustão. "Tudo o que tínhamos para fazer era esperar."
Resguardados do perigo do incêndio, os funcionários da base de Alcântara calaram-se. Não havia gritos nem choro. Todos assistiam atônitos ao maior incêndio que já viram em suas vidas.
Alguns perceberam que o vento tratava de levar para o sentido oposto a grande nuvem de gás tóxico formada pela combustão.
Outros verificavam que o fato de não ter havido um explosão preservou a vida de todos os que não estavam na torre.
"Depois de algum tempo, as pessoas trataram de procurar umas às outras. Quando se encontravam, se tocavam, para terem certeza de que estavam realmente bem. Estávamos lá havia muito tempo; comíamos juntos, dormíamos juntos, pegávamos os mesmos carros: havia um sentimento de irmandade entre nós. E alguns de nossos irmãos estavam completamente indefesos, no meio daquela bola de fogo."
O militar disse acreditar que os mortos pelo acidente não são heróis nem vítimas. "São profissionais muito competentes, pioneiros no que faziam. Nunca vi ninguém reclamar ou negligenciar um trabalho. É uma perda irreparável para a ciência."
Após o fim do incêndio, os sobreviventes não puderam se
aproximar do local, mas viram o que restou. "O que sobrou foi uma imagem dantesca de uma imensidão de ferro fundido.

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