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EVOLUÇÃO
Ancestrais do grupo teriam colonizado terra firme em eventos separados
Insetos têm dupla origem, diz DNA
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma estranha repetição evolutiva pode estar por trás da origem
dos animais mais numerosos e diversificados da Terra, os insetos.
A análise genética de dezenas de
espécies do grupo sugere que esses bichos colonizaram a terra firme duas vezes, com um intervalo
de muitos milhões de anos entre
cada migração.
Os primeiros pioneiros a deixar
a água poderiam ser até mais antigos que os próprios crustáceos (o
grupo dos camarões e caranguejos), considerados hoje os ancestrais do grupo. "Ainda não podemos afirmar que eles surgiram
antes de todos os crustáceos, porque a nossa análise não incluiu espécies suficientes desse grupo",
disse à Folha o biólogo Francesco
Nardi, da Universidade de Siena
(centro-norte da Itália).
"Ela certamente mostra que eles
são mais antigos que pelo menos
uma parte dos crustáceos", diz
Nardi, coordenador do estudo
que saiu na última edição da revista norte-americana "Science"
(www.sciencemag.org).
Os dados vieram do DNA mitocondrial, que só é encontrado nas
mitocôndrias, microusinas de
energia das células que contêm
seu próprio material genético,
isolado do núcleo celular. Por terem um genoma pequeno, cujas
mutações são fáceis de rastrear, as
mitocôndrias são muito usadas
para estudar a história evolutiva.
Fundamentais para o sucesso
dessa análise foram os colêmbolos, criaturas cujo esquema corporal (cabeça, tórax com seis patas e abdome) é igual ao dos insetos e que, por muito tempo, foram
consideradas as formas mais primitivas do grupo.
O DNA mitocondrial de 35 espécies de artrópode, incluindo
mosquitos, moscas, bichos-da-seda, abelhas, caranguejos e colêmbolos, foi comparado por Nardi e
seus colaboradores.
A árvore genealógica criada a
partir desses dados mostrou que
ao menos os colêmbolos pareciam ter se separado bem antes do
ramo que deu origem aos crustáceos, se comparados com os demais insetos. Insetos teriam surgido diretamente a partir dos crustáceos -quando, é difícil dizer.
"Entre espécies tão diferentes
umas das outras, é difícil usar a
técnica do relógio molecular para
calcular isso", afirma Nardi. "A
separação deve ter acontecido em
algum momento do Cambriano
[entre 590 milhões e 505 milhões
de anos atrás]", diz o biólogo.
Para o pesquisador, a explicação para que seres tão distantes
tenham se tornado tão parecidos
pode estar na chamada evolução
convergente, na qual origens diferentes geram resultados semelhantes na adaptação a um mesmo ambiente. "É o caso da cutícula de ambos, adaptada ao ambiente terrestre", afirma Nardi.
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