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ARQUEOLOGIA
Pesquisa questiona origem dos americanos
Estudo revê datação de sítio e traz dúvida sobre ocupação da América
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O trampolim usado pelos primeiros seres humanos para pular
da Ásia para as Américas foi agora
subitamente retirado, depois que
um sítio arqueológico na Sibéria
teve suas datas revistas, deixando
no ar a hipótese mais tradicional
para essa migração, realizada milhares de anos atrás.
Durante um período de glaciação, o nível do mar ficou mais baixo na região do estreito de Bering,
entre Sibéria (Rússia) e Alasca
(EUA). Com isso foi criada uma
"ponte" entre os continentes. A
maioria dos arqueólogos acredita
que os primeiros habitantes das
Américas usaram essa ponte para
colonizar o Novo Mundo.
Os arqueólogos mais tradicionais consideram que os primeiros
americanos pertencem à chamada cultura Clovis, o nome do sítio
arqueológico no Novo México,
oeste dos EUA, até recentemente
considerado o mais antigo, com
idade de cerca de 13,6 mil anos.
Outras pesquisas têm contestado essa primazia -principalmente o sítio de Monte Verde, no
sul do Chile, datado em 15 mil
anos atrás, mas ainda longe de ser
aceito pela maioria dos arqueólogos, ou o de Meadowcroft, na
Pensilvânia (leste dos EUA), com
16 mil anos. Bem mais polêmica
-e bem menos aceita- é a hipótese de já existirem seres humanos no sítio de Pedra Furada, no
Piauí, por volta de 30 mil anos
atrás ou mais.
O novo resultado é um banho
de água fria geral. Teoricamente,
os sítios arqueológicos da Sibéria
deveriam ser mais antigos que os
das Américas, já que dali teriam
vindo os antigos índios (ou paleoíndios).
Pesquisa publicada na edição de
hoje da revista científica americana "Science" revê a datação de um
importante sítio na Sibéria, situado bem no caminho da provável
migração para as Américas dos
antigos caçadores de mamute e
outros grandes animais.
Os sítios de Ushki, na península
de Kamchatka, eram estimados
em cerca de 17 mil anos de idade,
os mais antigos na Sibéria. O novo
estudo, feito pelos americanos
Ted Goebel e Michael Waters e
pela russa Margarita Dikova, indica que a ocupação humana de
Ushki só começou há 13 mil anos.
O sítio tinha sido exaustivamente pesquisado pelo russo Nikolai
Dikov desde 1964, mas só em 1978
apareceu um estudo dele escrito
em inglês. As ferramentas de pedra pontiagudas no sítio eram diferentes daquelas típicas da cultura Clovis, mas a datação antiga indicava que os habitantes do local
podiam ser remotos ancestrais
dos índios americanos.
Goebel, da Universidade de Nevada em Reno, decidiu reinvestigar o sítio, com ajuda da viúva de
Dikov. As descobertas foram uma
surpresa: em vez de mais antigo, o
sítio tinha idade parecida. E também foram achadas ferramentas
de pedra semelhantes às encontradas no Alasca, em sítios ligeiramente mais antigos.
É possível que essas culturas da
região conhecida como Beríngia
sejam ainda ancestrais de Clovis,
mas indicando uma migração
norte-sul bem mais rápida do que
se costuma imaginar. Ou talvez a
cultura Clovis tenha se desenvolvido nas Américas, fruto de uma
migração mais antiga, especulam
os autores.
"Somente pesquisa adicional no
nordeste da Ásia e nas Américas
vai resolver a questão", afirmam
Goebel e colegas.
Não é à toa que outro pesquisador do assunto, James Adovasio,
do Instituto Arqueológico Mercyhurst, de Erie, Pensilvânia, que escavou o sítio de Meadowcroft,
considera o estudo dos primeiros
americanos "o maior enigma
atual da arqueologia".
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