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Crocodilo antigo driblou extinção e cruzou oceano
Fóssil de animal foi encontrado em Pernambuco
ADRIANA CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
Paleontólogos brasileiros
apresentaram ontem uma nova
espécie de crocodilo pré-histórico, o Guarinisuchus munizi. A
espécie, que faz parte do grupo
Dyrosauridae, é conhecida como "o guerreiro dos mares",
porque resistiu ao fenômeno
que extinguiu os grandes dinossauros do planeta, há cerca
de 65 milhões de anos.
O fóssil de 3 metros e aproximadamente 62 milhões de anos
foi encontrado em rochas da
formação Maria Farinha, na região de Mina Poty, no norte de
Pernambuco, e é o mais completo deste grupo já descoberto
na América do Sul, especialmente no Nordeste do Brasil.
A descoberta, uma das mais
importantes dessa formação
geológica, permitiu traçar uma
nova teoria sobre a evolução do
grupo, indicando que a espécie
migrou da África para as Américas, cruzando o Atlântico.
Segundo a pesquisadora Maria Sales Viana, da Universidade Estadual do Vale do Acaraú
(CE), o fóssil mostra "a importância das características evolutivas da espécie", determinando o grau de parentesco
com outras similares.
"Nos permitiu traçar a rota
desse Dyrosayridae. Encontramos modelos mais primitivos
na África, depois na América
do Sul e, mais evoluídos, na
América do Norte. Isso mostra
que houve uma migração transoceânica", disse a cientista.
Segundo José Antônio Barbosa, da Universidade Federal
de Pernambuco, o fóssil tem
excelente estado de preservação e mostra que a região de
Mina Poty, também rica em
fósseis de moluscos, é um importante registro sedimentar
da época da grande crise, que
levou à extinção em massa.
"O material foi encontrado
por acaso em 2002, durante
nosso trabalho de campo numa
pedreira usada para exploração
comercial desde a década de 40
em Paulista (PE), muito visitada por pesquisadores. O crânio
estava fragmentado e o material estava quase completo, o
que é muito raro. É o mais
completo da América do Sul",
afirmou Barbosa.
De acordo com o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o animal era predominantemente marinho. "Ele tem espinhas desenvolvidas, além de
mandíbula e dentes finos e
pontudos associados aos que se
alimentam de peixes."
Kellner diz que alguns traços
comprovam que a espécie é nova. "Há variações do crânio específicas, uma curvatura que
nenhum outro crocodilo tem e
outras feições técnicas."
Um modelo em tamanho natural da espécie e réplicas do
crânio e de partes do animal
encontradas serão expostas a
partir de amanhã no Museu
Nacional da UFRJ.
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