São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Crocodilo antigo driblou extinção e cruzou oceano

Fóssil de animal foi encontrado em Pernambuco

ADRIANA CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

Paleontólogos brasileiros apresentaram ontem uma nova espécie de crocodilo pré-histórico, o Guarinisuchus munizi. A espécie, que faz parte do grupo Dyrosauridae, é conhecida como "o guerreiro dos mares", porque resistiu ao fenômeno que extinguiu os grandes dinossauros do planeta, há cerca de 65 milhões de anos.
O fóssil de 3 metros e aproximadamente 62 milhões de anos foi encontrado em rochas da formação Maria Farinha, na região de Mina Poty, no norte de Pernambuco, e é o mais completo deste grupo já descoberto na América do Sul, especialmente no Nordeste do Brasil.
A descoberta, uma das mais importantes dessa formação geológica, permitiu traçar uma nova teoria sobre a evolução do grupo, indicando que a espécie migrou da África para as Américas, cruzando o Atlântico.
Segundo a pesquisadora Maria Sales Viana, da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (CE), o fóssil mostra "a importância das características evolutivas da espécie", determinando o grau de parentesco com outras similares.
"Nos permitiu traçar a rota desse Dyrosayridae. Encontramos modelos mais primitivos na África, depois na América do Sul e, mais evoluídos, na América do Norte. Isso mostra que houve uma migração transoceânica", disse a cientista.
Segundo José Antônio Barbosa, da Universidade Federal de Pernambuco, o fóssil tem excelente estado de preservação e mostra que a região de Mina Poty, também rica em fósseis de moluscos, é um importante registro sedimentar da época da grande crise, que levou à extinção em massa.
"O material foi encontrado por acaso em 2002, durante nosso trabalho de campo numa pedreira usada para exploração comercial desde a década de 40 em Paulista (PE), muito visitada por pesquisadores. O crânio estava fragmentado e o material estava quase completo, o que é muito raro. É o mais completo da América do Sul", afirmou Barbosa.
De acordo com o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o animal era predominantemente marinho. "Ele tem espinhas desenvolvidas, além de mandíbula e dentes finos e pontudos associados aos que se alimentam de peixes."
Kellner diz que alguns traços comprovam que a espécie é nova. "Há variações do crânio específicas, uma curvatura que nenhum outro crocodilo tem e outras feições técnicas."
Um modelo em tamanho natural da espécie e réplicas do crânio e de partes do animal encontradas serão expostas a partir de amanhã no Museu Nacional da UFRJ.


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