São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIOLOGIA

Segundo pesquisa, danos no DNA mitocondrial levam a efeitos da idade

Estudo atribui velhice a mutações

Nature/Divulgação
Camundongo normal (esq.) e, calvos, três roedores modificados


MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O envelhecimento pode trazer rugas, calvície e osteoporose. Pode trazer também mutações no DNA mitocondrial, o ácido nucléico armazenado nas mitocôndirias, as "usinas de energia" da célula -ou pelo menos assim pensava a comunidade científica.
Um estudo sueco revelou que, pelo menos nesse caso, foi o ovo que veio antes da galinha. Ou seja, são as mutações nesse DNA que causam os efeitos da idade.
A equipe de Nils-Göran Larsson, do Instituto Karolinska em Estocolmo, criou camundongos com uma versão defeituosa da enzima responsável por manter o DNA mitocondrial (mtDNA), -que é separado do núcleo da célula, onde moram os genes. Resultado: os animais começaram a apresentar sinais de velhice, como calvície, osteoporose, anemia, inclinação da coluna e fertilidade reduzida com apenas 25 semanas de vida -apenas o começo da vida adulta para os camundongos.
A vida dos bichos alterados também foi reduzida de dois anos para quatro meses em média.
Ao ser questionado pela Folha sobre se havia descoberto a chave do envelhecimento, Larsson diz: "Certamente demos um grande passo, mas não dá para dizer que esse é o único mecanismo de envelhecimento que existe".
O médico diz que o resultado do experimento foi inesperado. "Eu também achava, como o resto da comunidade científica, que as mutações que apareciam no mtDNA eram apenas um efeito secundário da idade."
Para Larsson, a descoberta pode levar a boas opções de tratamento dessas doenças causadas pela idade. "É um bom ponto de partida para descobrir novos remédios."
Segundo o médico sueco, 44, sua motivação para o trabalho não foi pessoal. "Não fiz isso para mim. Não quero viver para sempre. Esse não é só um trabalho sobre envelhecimento", diz. "Se todo mundo vivesse muito, também teríamos problemas. Mas certamente vamos poder melhorar a vida das pessoas."
Para ele, os efeitos da pesquisa em camundongos podem ser estendidos para seres humanos. "É claro que homens e camundongos são muito diferentes, mas nesse caso dá para traçar um paralelo. É um fenômeno universal entre os mamíferos a relação entre velhice e mtDNA", diz. O estudo sai na edição de hoje da revista "Nature" (www.nature.com).


Texto Anterior: Genética: Detalhes separam chimpanzé do homem
Próximo Texto: Ambiente: Ilhabela é campeã da mata atlântica, diz atlas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.