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O faminto - André Barcinski

Comida sem frescura

A Bologna e seus croquetes imortais

Não seria surpresa se a rotisseria acabasse, vítima do desprezo dos paulistanos por suas instituições

Foi só um susto. Nas últimas semanas, todos que passavam pela esquina da Augusta com a Marquês de Paranaguá e viam a Rotisserie Bologna fechada, imaginavam o pior.

Estamos tão acostumados com o fechamento de restaurantes antigos, que não seria surpresa se a mitológica Bologna também acabasse, vítima da especulação imobiliária, da concorrência do fast food e do incansável desprezo dos paulistanos por suas instituições.

A Bologna existe desde 1915. Primeiro, no Anhangabaú, depois na rua Augusta, para onde foi em 1957.

A rotisseria é famosa por seus salgados -o croquete de camarão é de outro mundo- e seu incomparável frango de televisão.

Sempre gostei também do sorvete italiano, das massas frescas vendidas a quilo e do café bem tirado.

Mas a Bologna não vivia seus melhores dias. O lugar estava sempre vazio. Mesmo assim, alguns abnegados ainda paravam no balcão para comer empadinha de camarão.

Quando ouvi os boatos sobre o fechamento, liguei para a Bologna. O telefone só chamava. Mau sinal. Pensei logo naquela esquina ocupada por mais uma temakeria ou algum fast food de esfiha.

Depois de várias tentativas, consegui falar com Wagner Ferreira. Ele se identificou como um dos novos donos do lugar.

Para minha satisfação, Ferreira deu notícias sensacionais: a Bologna não só não vai acabar, como será renovada e reabrirá em seis meses, mantendo toda sua tradição.

Ferreira prometeu ampliar a rotisseria e criar um restaurante no local. Disse que vai manter até os funcionários antigos: "Tem o senhor Gerson, que é chefe de cozinha há 42 anos. Na primeira vez que entrei na Bologna, vi uma geladeira antiga e perguntei ao Gerson de que ano era. Ele respondeu: 'Não sei. Quando eu cheguei, essa geladeira já era velha'."

Estamos todos na contagem regressiva. Em julho, quando a Bologna reabrir, quero ser um dos primeiros a encostar a barriga no balcão e pedir uma coxa-creme.

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