São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Quartel gourmet

Antes sinônimo de comida ruim e improvisada, Exército tem agora cozinheiros com talento, formados em escolas de gastronomia

Eduardo Knapp/Folhapress
No quartel do ibirapuera, em São Paulo, arroz e feijão está todos
os dias no cardápio de soldados e oficiais do exército


RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Ser recrutado era sinônimo de inferno gastronômico, de comida ruim ou insossa de bandejão, feita por cozinheiros suados, de camiseta e cigarro no canto da boca -como o personagem Cuca, dos quadrinhos do Recruta Zero.
Hoje, come-se muito bem nos quartéis. E todos, do recruta raso ao general, comem a mesma coisa. E comida boa.
No passado não tão distante não era assim. Oficiais comiam melhor do que soldados -mesmo oficiais recebiam comida ruim.
"Nos anos 70, era comum enviar os soldados incompetentes para a cozinha. O resultado era uma comida intragável, os bifes eram pura sola", diz um dos generais do Comando Militar do Sudeste.
Hoje, os cozinheiros são profissionais, muitos trabalhavam na área na vida civil ou fizeram cursos de culinária em escolas com o Senac.
Claro, ainda existem diferenças no modo como praças e oficiais comem, especialmente quanto ao ritual de servir a comida. O Exército é uma instituição hierárquica.
Os recrutas vivem em bloco, uma maneira que os exércitos historicamente desenvolveram para produzir o "espírito de corpo" na tropa.
Comer em grupo estabelece a coesão entre os soldados, essencial para quem vai arriscar a vida em combate.
Nos "cassinos" (refeitórios), o ritual é preciso. No quartel do Ibirapuera, em São Paulo, a menor panela tem 50 litros. Arroz e feijão, presentes todo dia no cardápio, são cozidos em escala industrial.
O cardápio vai depender do que foi adquirido pelo depósito de suprimento da região, que centraliza as compras e conta com laboratório para analisar a qualidade da comida. "É possível ficar um mês sem comer peixe. Ou passar um mês comendo almôndegas", diz um oficial. Por sinal, conhecidas como "granadas" na gíria militar.
E um item comum, por ser barato, é o frango. Em um caso típico recente, havia frango em quatro dos sete dias da semana -coxa e sobrecoxa assadas, isca de frango na chapa, sobrecoxa assada de novo e panqueca de frango.
"O frango entrou para o Exército em 1977 e nunca mais saiu", brinca o mesmo general, que proíbe a esposa de preparar a ave em casa.

AVANÇAR
Às 11h30 começam a comer os soldados de serviço. Eles mesmo se servem no bufê. Ao meio-dia o corneteiro toca o "toque de avançar o rancho".
Garotões de 18 e 19 anos submetidos a exercícios físicos extenuantes, criam verdadeiras montanhas de comida no prato. Ficam todos de pé em frente ao prato esperando que a mesa seja completada. Só então recebem ordem para sentar e comer.
Em nenhuma refeição é servido álcool -ao contrário do que acontece em exércitos como o francês ou português, que não dispensam o vinho.
Como dizia um general: "A comida do quartel depende do comandante. Se ele não se preocupa com o assunto, é ruim. Se se preocupa, é boa".

FOLHA.com
Fotos da cozinha militar
folha.com/no963735


Texto Anterior: Fogo alto - Simone Bert: Temperei Maceió com ají
Próximo Texto: Supremo de frango à militar
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.