São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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porco caipira

Após um ano de pesquisa de raças caipiras, chef Sauro Scarabotta, do Friccò, serve os primeiros cortes que não eram achados no mercado

CRISTIANA COUTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foi a busca pelo autêntico sabor da carne de porco que iniciou essa história. O resultado pode ser conferido no Friccò, onde chef Sauro Scarabotta serve os primeiros cortes e embutidos de porcos caipiras que não são encontrados no mercado.
"É uma carne com origem e inspecionada, inteiramente rastreável", afirma Scarabotta. O processo legal para a comercialização das carnes custou-lhe mais de um ano. O resto foi fácil.
A Folha acompanhou o desmonte dos primeiros quatro porcos -das raças piau e nilo- no frigorífico artesanal Temra, em Araçariguama, no interior de São Paulo.
"Buscamos uma raça que não fosse de alta genética, como as comerciais, e com manejo específico, para obtermos uma carne mais saborosa", diz André Fleury, engenheiro agrônomo, sócio do Temra e parceiro do chef.

GORDURA
A principal característica para o melhor sabor da carne de porco é a presença de gordura. Essa, por sua vez, depende da raça do animal, do manejo -eles são criados livremente e abatidos mais tarde- e da alimentação.
"A gordura não é o demônio, é a parte boa. Dá maciez e sabor à carne", diz o chef.
Além do aspecto sensorial, há evidências químicas da qualidade de sua gordura e carne. Estudos feitos com porcos ibéricos e cinta senese (da Itália), criados livres e abatidos tardiamente, mostram que, além da quantidade maior de proteínas na carne, a gordura, em maior porcentagem, é rica em ácidos graxos insaturados, considerados saudáveis.

CAIPIRAS
É essa carne firme, marmorizada (com gordura entremeada) e de paladar pronunciado que Scarabotta e Fleury conseguiram com os porcos caipiras, descendentes das raças ibéricas trazidas pelos portugueses no século 16.
De resto, guardam algumas diferenças. "A carne do piau é mais escura e sua gordura, mais brilhante", diz o chef.
Atualmente, os porcos piau e nilo estão ameaçados de extinção e seus poucos criadores os utilizam para consumo doméstico. Antes da invasão, no início do século 20, de porcos mais rentáveis -os porcos comerciais, com muita carne e pouca gordura-, essas raças antigas eram abundantes no Brasil.

CORTES ESPECIAIS
Quem for ao restaurante, poderá provar cortes especiais -o "french rack" e o "short rack"- e embutidos como terrine, linguiça fresca e linguiça de fígado. É apenas a primeira amostra dos produtos obtidos dos 248 kg de matéria-prima retirados dos porcos caipiras. As tripas costumam ser separadas por tamanho, pois o calibre determina o tempo de maturação dos embutidos.
"Assim, antigamente as carnes não ficavam prontas ao mesmo tempo, e se tinha produtos do porco o ano inteiro", diz o chef italiano, que é neto de nortino, profissional que fazia os cortes e embutidos de um porco.
Pois desse animal, nada se perde, tudo se aproveita.

FRICCÒ
rua Cubatão, 837, Vila Mariana, SP, tel. 0/xx/11/5084-0480


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Conheça chefs que fazem embutidos artesanais e os cortes do porco
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