São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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COZINHA SENTIMENTAL MEMÓRIAS DA PONTA DA LÍNGUA

Diários de fogão

Dona de uma fazenda de laranjas no interior de SP, a chef Lindinha Sayon coleciona diários de receitas pesquisadas em viagens pelo interior da Itália; agora, comemora os 15 anos do seu restaurante Dolce Villa

Adriano Vizoni/Folhapress
A chef Lindinha Sayon na cozinha de seu apartamento, no Itaim Bibi

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Na juventude, Olinda era "Lindinha". Foi esse apelido que, mais tarde, batizou sua filha. Lindinha Sayon não diz a idade. Mas está em plena comemoração dos 15 anos de seu restaurante italiano Dolce Villa, em São Paulo.
Desde pequena, passava tardes a se encantar com os feitos -e o capricho- da avó libanesa na cozinha da fazenda de laranjas, no interior. A "esfiha no forno a lenha, de massa fininha", o "ataif", doce árabe de nozes, cortado à perfeição em "pedaços de mesmo tamanho".
É ali na mesma cozinha que Lindinha desprende horas no fogão para preparar couve refogada com feijão-preto, carne-seca desfiada com cebola crocante, salada de folhas da horta.
Não dispensa as ervas aromáticas de que tanto gosta. Manjericão, manjerona, alecrim, salsinha, cheiro-verde.
Lindinha descobriu que era da cozinha que queria viver apenas quando estava "toda estropiada". Ela sofreu um acidente numa estação de esqui no Chile que a deixou afastada do trabalho por seis meses -um tanto na cadeira de rodas, um tanto apoiada nas muletas.
"Cozinha é sentimento, né? Se estou triste, desabafo na cozinha. Se estou feliz, é na cozinha que eu gosto de preparar uma coisa com cara de contente", diz a chef, que depois se embrenhou em cursos profissionalizantes.
Lembra especialmente de uma escola na Borgonha, França, que "parecia um internato". "A gente acordava e dormia e cozinhava lá. Era um castelo perto de Paris, no campo." Nas redondezas, também estagiou em um restaurante, aprendeu a descascar "échalotes" e a tirar pele dos tomates com agilidade.
Em seu Dolce Villa (rua Pedroso Alvarenga, 554, SP, tel. 0/xx/11/3167-0007), Lindinha busca mostrar uma cozinha reconfortante, com referências daqui e de acolá.
São pratos como o "spaghettini" picante com frutos do mar, o filé-mignon ao roquefort, a sopa de queijo embalada pelo pão italiano.
E é nessa cozinha que ela se debruça quando volta de viagens de pesquisa. Seu empenho é transformar em receita as anotações que registra em seu "diário de bordo". São passagens sobre a galinha d'angola, as trufas negras ou uma "massa longa feita de ovos".
Em andanças por "cidades doces e medievais" da Úmbria (Itália), colheu traços da cozinha campestre, que valoriza o sabor dos produtos, os assados, os cereais -que agora aplica no festival recém-lançado no restaurante.
Ao que parece, está ligada às emoções por meio da comida, das artes, da música. Gosta de caminhar no parque Ibirapuera "bem cedinho para sentir o cheiro da terra". E senta-se ao piano de cauda para tocar clássicos de Bach, Chopin e Beethoven.


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