São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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Chefs criam merendas em escolas do Rio

Projeto aproxima cozinheiros renomados da rede pública estadual e prioriza ingredientes de pequenos produtores

Roberta Sudbrack fez frango ensopado com cenoura e canjiquinha; Claude Troisgros também participa


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

A distância entre o universo gastronômico da chef Roberta Sudbrack e o da merendeira Denise da Silva é equivalente à que separa suas cozinhas -uma em um badalado restaurante no Jardim Botânico, a outra em um colégio estadual em Manguinhos, no subúrbio do Rio.
Roberta prepara refeições para "no máximo 50 pessoas por dia". Denise, para no mínimo 600 -por turno.
"Aqui você vai ver o que é correr", disse a merendeira ao receber a chef anteontem no colégio Luiz Carlos da Vila.
O encontro marcou o início do projeto "Chefs na Escola: Recriando a Merenda", que pretende levar, a cada mês, cozinheiros renomados a escolas estaduais do Rio para ensinar às merendeiras receitas criadas por eles.
"A ideia era trabalhar com os ingredientes que elas tinham à mão, não alterar demais a maneira como elas preparavam as coisas, só dar dicas durante o preparo", diz Roberta, que criou uma receita de frango ensopado com cenoura acompanhado de canjiquinha.
O projeto -já abraçado por chefs como Claude Troisgros, Frederic de Mayer e Felipe Bronze- busca ensinar às merendeiras formas criativas de usar os alimentos de que elas já dispõem nas escolas, principalmente os vindos de pequenos produtores, como banana, mandioca e tomate.
A chef Teresa Corção -do Instituto Maniva e uma das líderes da ação- cita como um dos gatilhos do projeto a lei federal que determina que 30% da verba da merenda escolar seja gasta com gêneros da agricultura familiar.
"Só que foi uma lei de cima para baixo, ninguém sabe como viabilizar isso. É preciso trabalhar toda a cadeia, e um dos elos mais sensíveis é o das merendeiras, que são quem pega o produto e o transforma para as crianças comerem", afirma Corção.

NUTRIÇÃO
As receitas criadas pelos chefs foram aprovadas por nutricionistas da Coordenação de Alimentação Escolar do RJ e a ideia é que passem a integrar o cardápio mensal, inicialmente nas escolas visitadas pelos chefs (uma por mês) e, depois, nos quase 1.500 colégios estaduais.
A julgar pela experiência inicial, a tática de criar em cima dos alimentos do dia a dia pode render: tanto as merendeiras quanto os alunos, inicialmente desconfiados da canjiquinha com o frango, aprovaram a receita de Roberta Sudbrack.
"É um dia só, tudo muito rápido, mas é uma troca, uma oportunidade de refletir sobre esses ingredientes em um ambiente onde o processo [de cozinhar] às vezes fica mecânico", diz a chef.


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