São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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CRÍTICA RESTAURANTE

Adeo escorrega em cardápio enxuto

Com pinta de residência, guarda gostosa varanda com mesas ao ar livre e um pé de maracujá

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Nas visitas ao Adeo, aberto nos Jardins em março, vi-me novamente numa situação --a de assistir à aventura de se criar um restaurante-- que sempre me comove.
Não tanto quando se trata de um megaempreendimento. Mas principalmente quando é algo de cunho mais pessoal, dependente da garra do autor diante de percalços que tantas vezes ficam evidentes.
O Adeo tem essa cara simpática de obra autoral --até mesmo a "cara" do restaurante foi desenhada pelo proprietário, arquiteto. Suíço de Berna, Richard Pfander, 40, também estudou hotelaria, e há 15 anos vinha trabalhando em hotéis de luxo.
Chegou ao Brasil há dois anos e meio para a área de alimentos e bebidas do hotel Grand Hyatt, vindo da matriz do grupo, em Chicago. Mas, em meados de 2010, decidiu abrir um negócio próprio.
Depois de viajar pelo país, colocou mãos à obra em um antigo sobrado no Jardim Paulista. Ele ainda tem uma pinta de residência, o que dá um certo ar de improviso, mas guarda uma gostosa surpresa no segundo andar --uma varanda com mesas ao ar livre e um pé de maracujá.
Pfander, que fica no salão dando sua marca pessoal a tudo, concebeu um cardápio mínimo, de poucos pratos italianos e franceses, escolhidos com o chef Rodrigo Arino, seu amigo, e executados pelo chef Diego Porto Costa, 23.
Mas mesmo curta, nem tudo flui na carta: pedida em dias diferentes, a costela confitada ("por 15 horas a 90°C") com mandioquinha e arroz sempre estava em falta, ainda na panela. Assim como os vinhos não necessariamente estarão disponíveis.
Muitos pratos têm uma formulação tentadora, mas diferentes desempenhos. A salada de camarões com folhas tem, além de crustáceos firmes, um molho delicado de alho bem picado com toque de échalote e erva-cidreira.
Mas a delicadeza passa longe da costela suína defumada com batatas ao molho de mostarda, tão agressivo é o sal da carne. Para compensar, o namorado com azeite de sálvia e legumes ao vapor volta ao terreno da leveza.
O serviço é sorridente, mas hesitante, com pouco preparo, como se vê quando se pedem detalhes dos pratos. Além disso, o garçom não esquece de perguntar o ponto desejado para a fraldinha (servida com purê de batata com alho e molho de cogumelos de paris), mas chega no ponto oposto ao pedido.
Dentre as massas, o penne com linguiça, tomate fresco e manjericão poderia ter um molho mais denso, mas é OK. É melhor a paleta de cordeiro com risoto de cogumelos, embora a carne, assada por horas, venha à mesa previamente desfiada à mão (melhor se viesse em nacos, a serem trabalhados por meus dentes).
Como sobremesa, o cheesecake com calda de goiabada carece de cremosidade, mas tem a opção da torta crocante de chocolate. O proprietário está sempre ali, atento, esperança de que as vicissitudes podem ser superadas.

ADEO CUISINE
ENDEREÇO al. Jaú, 1203, Jardins tel. 0/xx/11/3061 3937
FUNCIONAMENTO seg. e ter., das 12h às 15h; qua. e qui., das 12h às 15h e das 19h30 às 23h30; sex., das 12h às 15h e das 19h30 à 0h; sáb., das 12h às 16h e das 19h30 à 0h; dom., das 12h às 17h
AMBIENTE adaptado num sobrado residencial, com gostoso terraço aberto no segundo piso
SERVIÇO simpático, mas hesitante
VINHOS oferta pequena e nem tudo disponível.
CARTÕES A, M e V
ESTACIONAMENTO R$ 15
PREÇOS entradas, de R$ 20 a R$ 35; pratos principais, de R$ 37 a R$ 68; sobremesas, de R$ 9 a R$ 14




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