São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011

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Brasileiro tem título de maior especialista em vinho do mundo

'Master of Wine', Dirceu Vianna diz que país vai demorar a achar identidade e que precisa promover intercâmbio, como fez o Chile

Ao lado de outros 289 enólogos, paranaense tem grau mais alto que alguém pode alcançar no reino dos tintos


PATRÍCIA JOTA
COLUNISTA DA FOLHA

"Se fosse jogador de futebol, meu objetivo seria ganhar a Copa; se fosse piloto de Fórmula 1, eu me tornaria campeão mundial. Como o destino me levou aos vinhos, apostei no 'Master of Wine'. Quem tem esse título não precisa provar nada a ninguém."
Desde 2008, o paranaense Dirceu Vianna Júnior, 42, é o único brasileiro a fazer parte do time de 289 especialistas em vinhos, entre enólogos e críticos de todo o mundo.
É o grau mais alto que alguém pode alcançar no reino dos tintos, brancos e afins, concedido pelo Institute of Masters of Wine, de Londres.
Para chegar lá, seguiu uma disciplina espartana, espelhada na do remador inglês Steve Redgrave. "Ele ganhou cinco medalhas de ouro em cinco olimpíadas diferentes."
"Quando eu me preparava para o título, às 4h30 da manhã já estava estudando".
Foram cinco anos de dedicação intensiva até a maratona de exames finais.
Há mais de duas décadas, Dirceu vive em Londres, onde é diretor da importadora Coe Vintners, mas tem vindo duas vezes por ano ao Brasil para dar consultoria a empresas e cursos em geral.

CONHEÇA
Na última semana, ele esteve em São Paulo para formar a sua terceira turma pela "The Wine School", a representante brasileira do britânico "Wine & Spirit Education Trust", e para lançar o livro "Conheça Vinhos" (ed. Senac, R$ 70, 276 págs.).
E assim vai impulsionando o interesse e o consumo no país, que ainda não chegou aos dois litros per capita.
"As pessoas querem um vinho fácil de entender, sem muita acidez, sem muito tanino", afirma. E os produtores têm se adaptado.
"Hoje, em função dos críticos, das mudanças climáticas e do imediatismo -ninguém mais compra um bordeaux e espera 25 anos para abri-lo-, os vinhos estão acessíveis mais cedo."
Com paladar e olfato educados segundo o Velho Mundo -já degustou mais de 30 mil rótulos na vida-, reconhece o potencial dos vinhos brasileiros, mas é cauteloso.
"Quem começou a explorar o terroir da Borgonha? Foram os monges do século 11. Demorou séculos até que a pinot noir fosse finalmente identificada como a melhor uva para a região", diz.
"Com a tecnologia atual não precisaremos esperar nem 50 anos. O Brasil tem terroir, mas vai demorar algum tempo para aprender a explorá-lo da maneira correta."
E dá a dica: "É preciso investir em intercâmbio de conhecimento, como fizeram o Chile e a Argentina".
Não fala os rótulos preferidos, mas gosta dos bordeaux e borgonha. Com churrasco, vai de malbec argentino.


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