São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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ANÁLISE

Restaurantes brasileiros precisam achar sua marca

GENTE NA EUROPA SABE QUE A CULINÁRIA BRASILEIRA PODE SER FASCINANTE; É DIFÍCIL TRAZER A EXPERIÊNCIA E DECEPCIONANTE O ESFORÇO DE COMPRIMIR TAMANHO NÚMERO DE INGREDIENTES INSPIRADORES NUM LOCAL RESTRITO

NICK LANDER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Minhas memórias sobre a comida brasileira combinam felicidade e tristeza, e não surpreende que esses sentimentos se relacionem principalmente aos lugares nos quais provei a culinária brasileira, e não ao que comi.
No Brasil, tive a felicidade de me apaixonar pela culinária baiana em Salvador, enquanto, em São Paulo, percorri o mercado Kinjo Yamato com o chef José Barattino, do hotel Emiliano.
Foi Alex Atala, mais do que qualquer outro, que me aproximou das maravilhas da Amazônia, enquanto um almoço no Mocotó com Luiz Horta definitivamente compensou a longa demora do trânsito paulistano.
Por isso, eu tinha grandes esperanças quanto ao Mocotó, que o brasileiro David Ponte abriu como primeiro restaurante típico sofisticado no mercado londrino, em Knightsbridge (a casa não tinha nada a ver com o seu homônimo em São Paulo).

CAIPIRINHA
Infelizmente, o restaurante fechou em apenas um ano. Restam apenas três restaurantes brasileiros em Londres, dois especializados em churrasco e caipirinha e o terceiro em sushi e caipirinha.
Há diversos motivos para que o Mocotó tenha fechado tão rápido. Problemas com o principal investidor; o fato de que a casa ocupava dois andares e ficava em frente a um ponto de ônibus; e, o mais importante, na minha opinião, aquilo que atraiu Ponte para aquele espaço enorme em Londres, para começar.
"Eu queria abrir um restaurante grande", ele uma vez me explicou, "porque o Brasil é um país tão grande. Queria alguma coisa que refletisse o tamanho do país".
Infelizmente, a diversidade de culinárias, e das culturas subjacentes, que faz uma visita ao Brasil tão atraente para o entusiasta da gastronomia (e cada vez mais para o do vinho), torna muito difícil transportar a experiência e muito decepcionante o esforço de comprimir tamanho número de ingredientes inspiradores em um local invariavelmente restrito.
O contraste é o sucesso do Gaúcho, o restaurante de carnes argentino que no momento opera 14 filiais em Londres e uma em Beirute, e prepara a abertura de uma nova casa nos Emirados Árabes.
O nome é muito bom, mas o que mais importa é que todo mundo que faz reservas na casa sabe imediatamente que experiência terá: filés excelentes, acompanhado por um Malbec igualmente ótimo.
Porque tão pouca gente na Europa sabe até que ponto a culinária brasileira pode ser fascinante, aqueles que abrem restaurantes brasileiros por aqui não podem ser ambiciosos demais.
Num mundo em que nomes são cada vez mais importantes, os restaurantes brasileiros precisam achar sua marca. Pelé, talvez?

O jornalista NICK LANDER é crítico de gastronomia do jornal "Financial Times"

Tradução de Paulo Migliacci




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