São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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DEPOIMENTO

Sem bom gosto nem visão, brasileiros lá fora decepcionam

MÁRCIO SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Morei 14 anos em Nova York. Trabalhei de garçom a "maître d'assistant", de assistente de cozinha a chef.
Passei por restaurantes como o Bouley, o Balthazar e o Falai, em Nova York, e o Aureole, em Las Vegas.
No geral, os brasileiros que abrem restaurantes na gringolândia não têm bom gosto nem visão. Só abrem coisas para brasileiros mesmo, um lar fora do Brasil.
Os poucos gringos que acabam parando num lugar desses o fazem para conferir o "flair" brasileiro, que geralmente é decepcionante.
A comida brasileira apresentada no exterior é parecida com a cubana ou a porto-riquenha, e perde em sabor e riqueza para a mexicana.
O estrangeiro, quando pensa em boa comida latina, cheia de vida e divertida, pensa no México. E por quê?
Porque o México tem histórico gastronômico, sua cultura está enraizada em comida e, do lado marqueteiro, tem muitos chefs famosos nos Estados Unidos que prezam a comida do país.
O outro lado dessa moeda é que o Brasil não tem histórico gastronômico no exterior. O país é conhecido por futebol, samba, Gisele Bündchen e, espero eu, começando a trilhar outros caminhos. Isso, graças a nomes como os de Beatriz Milhazes, Vik Muniz e os Gêmeos.
Não há ligação nenhuma com a comida. E, quando alguém cai num rodízio de carnes, é aquela fartura enjoativa, geralmente malfeita.
Não é porque o cara é brasileiro que sabe cozinhar comida brasileira bem.
Todas as minhas experiências em restaurantes brasileiros em Nova York foram familiares (o que não quer dizer bom, mas nostálgico, porque me transportou para minha casa no Brasil, comida de mãe). Achava uma experiencia pobre de bom gosto.
De qualquer maneira, acho os restaurantes mexicanos mais ricos em sabor, cor e vida! Abriria um restaurante brasileiro no exterior, sim. Mas de comida contemporânea, leve, bonita e gostosa. De preferência, num bairro que não seja de imigrantes!

MÁRCIO SILVA é chef e sócio do restaurante Oryza (rua Mato Grosso, 450, São Paulo, tel. 0/xx/11/3151-4463)



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