São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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Cozinha é refúgio para políticos de Brasília

Ministra Eliana Calmon tem livro com 300 receitas; senador Jarbas Vasconcelos prepara jantar para partidários

Para o senador Aloysio Nunes, cozinhar é uma forma de meditação e ajuda a diluir tensões do Planalto

FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

O desafio do dia a dia da ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça, é investigar irregularidades no Judiciário e dar um puxão de orelha em juízes. Mas é quando troca a toga pelo avental que surge seu maior inimigo, até agora invencível.
"Não consigo fazer os folheados, todas as tentativas falharam, mesmo quando sigo as receitas. Desisti", diz.
Apaixonada por gastronomia desde menina, quando acompanhava a mãe em aulas de culinária, ela é autora de "Resp - Receitas Especiais", livro independente com 300 pratos, à venda apenas em seu gabinete.
A pedido da Folha, o chef William Ribeiro, do Pote do Rei, em São Paulo, testou a receita da salada marroquina de autoria da ministra: "Acrescentaria hortelã para dar frescor e substituiria a maionese por creme azedo".
Calmon não se intimida diante de pratos trabalhosos como vatapá e caruru, mas os tais folheados são uma lacuna no currículo da baiana.
A ministra não é um caso isolado na Esplanada: ir para a cozinha é prazeroso para poderosos de Brasília.
"O ato de cozinhar tem a mesma função de higiene mental que a meditação", diz o senador Aloysio Nunes.
O interesse pela gastronomia surgiu durante seu exílio na França, entre 68 e 79. "Não gosto de comida congelada e enlatada, e fui aprendendo."
Sua paixão é por peixes e massas -o risoto de frutos do mar é um sucesso, diz.
Pescados também são recorrentes na cozinha de Orlando Silva, ministro do Esporte. Mariscadas e bacalhoadas fazem parte do cardápio oferecido a amigos.
Para esta reportagem, preparou uma moqueca baiana seguindo a receita da avó.
"Eu separo tudo. Pico tomate, alho, cebola, e vou colocando as vasilhas nos seus devidos lugares. Minha única chatice [na cozinha] é ser organizado", diz o ministro.
Até mesmo para o tradicional churrasco os poderosos têm seus truques.
"Picanha boa tem no máximo 1,5 kg. Se venderem com mais de 1,5 kg tem pedaço de alcatra junto", afirma o gaúcho Luis Inácio Adams, advogado-geral da União.
Exigente com a qualidade e com o corte da carne, compra do mesmo fornecedor há seis anos e só cozinha para pessoas da família.
Mas há quem use a arte de cozinhar para melhorar a da política. No mês passado, o jantar oferecido pelo senador Jarbas Vasconcelos a uma ala do PMDB foi elogiado pelos congressistas presentes.
A carne de sol servida na ocasião foi levada de Pernambuco, e ficou banhada por longas horas no leite, na véspera da reunião política.
"A carne já é de boa qualidade, mas fica ainda mais molinha. E o sal não vai todo embora", ensina o senador.
A carne então vai para o forno com pedaços de manteiga forrando a bandeja.
O preparo, em fogo baixo, leva duas horas. "Do meio para o final, coloco cebolas em rodelas e em cubos". O senador é conhecido pelo cozido que prepara. Na receita, vai de tudo um pouco: banana-da-terra, chuchu, quiabo, cenoura, milho, couve, vagem e carne.
"São carnes de segunda, duras: músculo, pé de porco, toucinho, rabo de boi." O preparo leva dois dias e tem suas regras. "Não gosto de cozinha cheia, com gente dando palpite e levantando a tampa da panela sem falar comigo. Como as pessoas lá em casa já sabem disso, me deixam em paz", diz o senador.

Salada marroquina

INGREDIENTES
1 xícara de chá de trigo para quibe
2 peitos de frango
200 g de presunto
4 colheres de sopa de maionese
Palmito picado
Passas
Pimentão
Limão e azeite de oliva
Cebola

PREPARO
Coloque o trigo de molho em água quente, por meia hora
Desfie o frango depois de cozido com todos os temperos
Pique todos os ingredientes, misture tudo e, então, regue com bastante azeite de oliva

NOTA
O segredo desta receita é picar todos os ingredientes bem miudinhos


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