São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011

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COZINHA SENTIMENTAL

Colecionadora de marmita

Com cuidado e carinho, qualquer lancheira pode ser o máximo, mesmo que só leve coisas simples como um pão com manteiga ou arroz e feijão

HELOISA BACELLAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Acho que quase todo mundo tem alguma lembrança gostosa de lancheiras e marmitas, que muitas vezes vêm com boas doses de carinho (além da surpresa ao abrir).
Para a escola, levava banana, pãozinho de maçã da minha mãe, pão com manteiga, queijo e geleia, patês de presunto e tomate (uma menina da classe gostava de pão com manteiga e açúcar), mas detestava guaraná, suco de garrafinha de plástico e leite. Tomava água.
Adorava preparar a lancheira das minhas filhas: para a Bebel fazia bolos de fubá, cenoura, chocolate e "de nada com açúcar e canela", bolinhos "madeleines" e "financiers" (as professoras amavam), sanduíches, milho e azeitona; para a Ana, fazia pãezinhos de leite e rolinho de presunto e queijo.
Por muito tempo, o meu marido comeu feliz as minhas marmitas no trabalho, o capricho era tanto que os colegas viviam espiando.

OBENTÔ
Americanos e europeus vivem carregando marmitas. Mas os japoneses ganham. Há uns 500 anos já levavam obentôs cheios de delícias quando caminhavam para apreciar cerejeiras e folhas de outono. Depois começaram a levar em qualquer passeio, viagens e ao trabalho.
Há o yusabentô chiquérrimo laqueado, pintado à mão, com louça, hashi, bandeja e tecidos lindos.
O koshibentô simples para amarrar nas costas e levar arroz, legumes e peixe; os de madeira, de plástico e de alumínio (é claro que os que já vêm com comida não são tão emocionantes assim).

COLEÇÃO
Tenho marmitas de alumínio retangulares, redondas, com andares e para ovo cozido, coloridas de ágata, africana para arroz, de beduíno... E tenho a minha lancheira de plástico verde e a de lata da minha mãe. Gosto tanto que no Lá da Venda sirvo estrogonofe, picadinho e panqueca na marmita.
Acho incríveis as músicas "Rancho da Goiabada", do João Bosco, e "Torresmo à Milanesa", do Adoniran e do Carlinhos Vergueiro, com a conversa do João e do Dito: "Que é que você trouxe na marmita, Dito? Trouxe ovo frito. E você, beleza, o que é que você trouxe? Arroz com feijão e um torresmo à milanesa? Da minha Teresa!".

FILMES
E já perdi a conta das vezes que assisti ao filme "Comer, Beber e Viver", com as marmitas que o cozinheiro Shu preparava para uma menina da vizinhança, e ao "A Caminho para Casa", com a chinesinha Di colocando todo o seu amor nas marmitas para o professor da aldeia.
Ou seja: com cuidado e carinho, toda marmita e lancheira pode ser o máximo, mesmo que só leve pão com manteiga ou arroz e feijão.

HELOISA BACELLAR é cozinheira, dona do restaurante e armazém Lá da Venda, em São Paulo, e autora dos livros "Cozinhando para Amigos" e "Chocolate Todo Dia"


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