São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011

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NINA HORTA

O último capítulo das empregadas


Quero que se conscientizem do seu valor, sintam orgulho do que fazem e tenham todos os direitos


Bom, ficaria uma vida conversando sobre empregadas domésticas, mas não poderia.
Recebi inúmeras cartas refletindo junto comigo, mas agora começaram a chegar mensagens iradas de quem imagina que essa reflexão não seria útil para profissionalizar essa categoria, para fazê-las orgulhosas da profissão.
Querem mais que a cronista morra, porque é escravagista, porque não percebeu ainda que as empregadas sumiram porque há outras profissões que as remuneram melhor e tome palavrão.
O leitor Thiago Rocha, educado, fino, inteligente, escreve: "O ponto que acaba de levantar já foi tema secundário de um artigo do professor Antonio Delfim Netto. Assim como ele, sou economista, e nossa justificativa parte da construção da 'nova classe média'. As empregadas de ontem são as cabeleireiras e as manicures de hoje. Donas do próprio negócio, possuem renda maior e, por isso, dedicam maiores parcelas de sua 'nova renda' à educação, especialmente à dos filhos. Os filhos dessas profissionais liberais serão, em futuro não tão distante, os novos gerentes e administradores, ou seja, as empregadas domésticas, ruins ou boas, desaparecerão, como nas economias maduras europeias desapareceram. O progresso destrói antigos postos de trabalho e cria outros melhores e mais especializados. Onde estão os alfaiates, sapateiros e datilógrafos?".
Ah, Thiago, muito obrigada. Desculpas pela edição selvagem, entendo tudo o que você diz, mas não consegui me fazer entender nessas conversas sobre as empregadas domésticas. Não queremos vê-las escravizadas, rebaixadas, fora do mercado de trabalho. Ao contrário.
Queremos que as mulheres que sabem cozinhar, passar, lavar, arrumar casa, tomar conta de criança, se conscientizem do seu valor, sintam orgulho do que fazem. Que tenham todos os seus direitos, os seus carros, a sua casa, e que não se envergonhem de tarefas domésticas!
Você me pergunta onde estão os sapateiros e alfaiates. Respondo: os que tinham um mínimo de miolo não foram ser atendentes de dentistas, estão ganhando fortunas, fazendo seu serviço com perfeição, procurados por todos. O datilógrafo bobeou.
Só estou querendo enfiar na cabeça da boa cozinheira que ela educará melhor seus filhos, se os educará melhor, se, em vez de, por puro preconceito, se tornar cabeleireira ou advogada, fizer o que sabe.
Posso falar de boca cheia porque fomos pioneiras, minha sócia e eu, podendo ser manicures de gabarito, indo trabalhar num serviço totalmente doméstico, onde se entra pela porta dos fundos, se toma elevador de serviço e todo o resto.
Não deveria existir tabu nessa área de domesticidade. O país precisa tanto de empregadas domésticas como de telefonistas, filósofas, contanto que ganhem o que lhes é devido em dinheiro e em respeito!
Tratem de perceber que essas serão as profissões mais bem pagas do futuro próximo.
Esqueçam o status de garçonetes de bar, contadoras, depiladoras, vocês estão fazendo o mesmo erro das feministas exageradas, que largaram as casas para trocar roda de caminhão e que agora tentam voltar desesperadas para as antigas funções. Atenção!

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