São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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Beirais largos, correção do solo e impermeabilização das fundações dão robustez e resistência às moradas

Desprotegida, obra vai por água abaixo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Casas feitas com paredes de terra colecionam elogios a seu desempenho térmico, custo, baixo impacto ambiental e resistência. O único desafio que impõe medo a essas construções é a água.
"Essa habitação precisa de botas de cano alto e de um bom guarda-chuva", ilustra o arquiteto Paulo Montoro, referindo-se às fundações e à cobertura.
Isso porque, como o material não é cozido, pode deteriorar-se por causa do contato constante com a água se a morada não estiver devidamente protegida.
"Quando a parede fica seca, corre o risco de trincar", alerta o engenheiro Paulo Cesar Nunes de Aquino, 35, coordenador da divisão de tecnologia das construções do Instituto de Engenharia.
Um item indispensável no projeto são os beirais largos no telhado, como aponta Witoldo Zmitrowicz, da Escola Politécnica da USP. "As águas pluviais não podem passar junto à parede, então é preciso planejar um bom sistema de drenagem."
Quanto às "botas de cano alto", em seu projeto para a Secretaria da Habitação, Montoro lançou mão de fundações de pedra com 40 cm de altura. A impermeabilização não deve ser deixada de lado, para que a água do solo não suba pelas paredes.

Resistência
Quando se trata de segurar a casa, o adobe e a taipa têm comportamentos distintos. O primeiro geralmente é usado para vedação.
Já a taipa de pilão dá origem a paredes robustas, desde que a terra seja bem compactada dentro das fôrmas, para evitar trincas.
"A resistência depende da espessura. As igrejas coloniais têm grande porte, mas possuem paredes de 50 cm", pontua Aquino.
O ganho também se estende ao conforto dentro de casa. "A construção é praticamente uma moringa, porque a terra tem boa permeabilidade, demora para aquecer de dia e, à noite, esfria lentamente", explica Sylvio Sawaya.
Como a terra usada para levantar as casas geralmente é aquela encontrada no local, o método é considerado de baixo impacto ambiental, pois minimiza as idas e voltas de caminhões ao canteiro.
Além da taipa de pilão e do adobe, utilizados no projeto de Montoro, outras técnicas construtivas têm a terra como matéria-prima.
São o tijolo compactado com prensa manual, a taipa de mão (ou pau-a-pique, armação de paredes com barro moldado em madeira ou bambu) e o Pise (sigla em inglês para terra estabilizada compactada pneumaticamente), que não é muito comum no país.
Mas, antes de revolver o solo, é preciso analisá-lo para saber se precisa de correções e reforços. "A terra brasileira é mais argilosa do que arenosa, e, para fazer a taipa, ela precisa ter 30% de argila e 70% de areia", calcula Montoro.
O material às vezes recebe cal, que agrega as partículas de terra e deixa a parede menos permeável.
Em março de 2003, várias entidades e faculdades de arquitetura se reuniram para elaborar um projeto de regulamentação das técnicas construtivas em terra na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Um ano depois, Montoro conta que o projeto não foi para a frente. "Tivemos reuniões com a Caixa Econômica Federal, mas elas foram minguando, e esperamos retomá-las", afirma. "O processo de normatização é complicado." (BRUNA MARTINS FONTES)


ABCTerra e arquiteto Paulo Montoro: 0/xx/11/3887-5692.


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