São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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POR UM FIO

Terceiro furo se conecta a norma antiquada

Indústria e comércio serão obrigados a adotar tomada de três terminais até 2007; ABNT usa valores de 1990

DA REPORTAGEM LOCAL

A estrutura elétrica das residências no Brasil é uma "tomada de dois plugues". De um lado, há uma norma defasada; de outro, uma lei que trará mais segurança aos edifícios.
O choque de modernidade "explodirá" daqui a um ano nas paredes do país: a conhecida tomada fêmea, de dois terminais, deverá desaparecer. Em novos projetos, o modelo adotado deverá ser o de três terminais.
O prazo para a indústria e o comércio se adequarem vence em 26 de outubro de 2007. O terminal extra, localizado no centro, conecta-se ao fio de terra, evitando choques elétricos.
Quem quiser trocar as tomadas ou ampliar o número delas para abandonar os arriscados benjamins terá de enfrentar quebra-quebra, avisa o arquiteto Luciano Imperatori, 37, da Hochheimer e Imperatori Arquitetura.
"Puxar fios é perigoso, pode provocar curtos", alerta Imperatori. Segundo ele, a falta de tomadas é mais comum em edificações com mais de dez anos.
Já as mais novas costumam ter reserva no quadro de força para acréscimo de disjuntores e um grande número de tomadas, cuja localização, no entanto, pode deixar a desejar, de acordo com as necessidades e vontades de decoração.
Qualquer obra elétrica deve ser feita por um profissional especializado, indica o presidente da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), Edson Martinho, 42.
Pela legislação estadual, projetos elétricos de moradias unifamiliares não precisam da aprovação do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo), ao contrário do que é exigido para prédios de apartamentos.
Ainda assim, Martinho diz que não se pode dispensar um especialista para projetar a parte elétrica de uma casa, "porque falhas são imperdoáveis".

Norma "apagada"
O buraco extra previsto para as tomadas, porém, não tapa um furo nas regras para fazer uma rede elétrica.
Especialistas, como o engenheiro civil Paulo Roberto dos Santos, afirmam que a norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para esse tipo de instalação em moradias está defasada.
Embora tenha havido duas atualizações, em 1997 e em 2004, foram mantidos valores da versão de 1990.
A norma determina que tomadas residenciais suportem uma carga de 100 watts. É o suficiente para uma TV de 29 polegadas, que tem potência média de 90 watts, mas está aquém da potência de um televisor de plasma, de 200 watts.
Até o final do ano, a Eletrobrás conclui a tabulação de dados de uma pesquisa sobre posses e hábitos dos usuários de energia elétrica que será útil na revisão dos valores.
Antes de desplugar todos os aparelhos, porém, saiba que a maioria das tomadas foram superdimensionadas e construídas para tolerar até 1.000 watts.
Essa folga, no entanto, vem diminuindo e está perto do limite, alerta Santos.
Para evitar apagões ou fogo, a saída é fazer um check-up nas construções com mais de 20 anos, que é a vida útil de fios, cabos, quadros de força e disjuntores. (DÉBORA FANTINI)

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