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PRIMEIRO ATO
Demissão de John Neschling da Osesp
gera "sinfonia" de silêncio e especulações
O destino da Sala São Paulo e da orquestra em três atos: presente confuso, passado glorioso e futuro incerto
ADRIANA KÜCHLER
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
No princípio, era a música. E
a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo gravaria, a partir do dia 12, mais um CD para o
selo sueco Bis, com a participação do trompetista norueguês
Ole Edvard Antonsen. Mas esse
importante compromisso da
pré-temporada, agendado há
um ano, foi cancelado.
O motivo todos conhecem: a
demissão do polêmico maestro
e diretor artístico John Neschling, 61, anunciada em 21 de
janeiro, da orquestra que comandava há 12 anos.
Após a carta de demissão ao
regente, assinada pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, que encabeça a fundação, foi combinado um pacto de
silêncio, que só seria quebrado
na última sexta-feira para o
anúncio oficial do francês Yan
Pascal Tortelier, 61, como
maestro substituto para as
temporadas de 2009 e 2010.
Filho do renomado violoncelista Paul Tortelier, Yan comandou a Filarmônica da BBC
e é considerado um regente de
primeira, como Neschling.
"Tudo isso foi feito com um
único propósito: preservar a
qualidade da orquestra", disse à
Folha Fernando Henrique
Cardoso. "O processo foi realizado com serenidade e pesar."
No comando da Osesp, o
maestro carioca criou um projeto e uma nova forma de administrar. Profissionalizou e fez a
orquestra reconhecida no cenário internacional. Exigiu a
construção da Sala São Paulo,
inaugurou a era das turnês internacionais e garantiu maiores salários para os músicos e
um orçamento que chegou a
R$ 59,9 mi em 2008 -R$ 43 mi
bancados pelo governo.
"Neschlíngua"
Enquanto aumentava a visibilidade internacional, Neschling cultivava a fama de autoritário e centralizador. Ganhou
inimigos entre os músicos e o
governo do Estado e o apelido
maldoso de "neschlíngua".
Chegou a chamar o governador
José Serra de menino mimado
em um ensaio cujo áudio foi
gravado e difundido pelo site
YouTube, em 2007.
Após uma série de troca de
farpas, o maestro anunciou, em
junho do ano passado, que não
renovaria o seu contrato, que
expiraria em outubro de 2010.
Do tripé de apoio a um maestro, Neschling ainda tem um pilar para sustentá-lo: os fãs. Em
um dos últimos concertos do
ano passado, os assinantes da
Sala São Paulo organizaram um
coro de apoio. "Fica! Fica!",
cantaram por dez minutos,
num momento emocionante.
Na comunidade musical, no
entanto, as reações são diferentes. "Se há assinantes reclamando, também tem muita
gente comemorando", afirma
Arthur Nestrovski, violonista e
articulista da Folha. Procurado
pela reportagem, o maestro
não quis se manifestar.
A questão agora é saber se a
separação será de comum acordo ou litigiosa. A Fundação
Osesp alegará rompimento de
contrato? Terá de pagar indenização pela demissão?
Uma sinfonia que ainda promete muitos atos e outros tantos acordes dissonantes. Mas
nem sempre foi assim...
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