São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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SAÚDE

Polícia diz que Bayern e SNA Centro de Diagnósticos não faziam as análises e forjavam os resultados para não ter gastos

Laboratórios são acusados de fraudar testes

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois laboratórios de São Paulo fraudaram exames de sangue, urina e papanicolaou (que previne o câncer de colo de útero) para evitar os gastos da análise, segundo a polícia. O Bayern e o SNA Centro de Diagnósticos atendiam os pacientes do Itálica Saúde, plano que tem cerca de 70 mil conveniados, e forneciam resultados em que os índices pareciam normais -independentemente do real estado do cliente.
"Enviamos mais de 5.000 exames para a perícia. Todos são iguais. Falo com convicção: houve fraude", afirmou ontem o delegado Aldo Galiano, da 5ª Delegacia Seccional de Polícia.
A Folha tentou ouvir ontem representantes do Itálica e dos laboratórios, mas eles não tinham ligado de volta até o fechamento desta edição.
Anteontem, o diretor administrativo do plano de saúde Itálica, Sérgio Gabrielli, 57, afirmou ao "Agora" que os dois laboratórios são prestadores de serviços da empresa e que essa é a única relação existente entre eles. No laboratório SNA, uma mulher, que apenas se identificou como proprietária do local, disse que tinha os comprovantes dos exames nos computadores da empresa.
A polícia pediu a quebra dos sigilos bancário e telefônico de quem aparece no contrato social da cooperativa Itálica, que, segundo Galiano, administra tanto o plano de saúde como o Bayern e o SNA, além de dois hospitais.
O delegado, porém, suspeita que parte dos nomes registrados no contrato seja de "laranjas". Dois dos supostos sócios que prestaram depoimento ontem declararam ser funcionários e disseram não saber que seus nomes estavam no contrato.
"Eles montaram uma estrutura de crime organizado para impedir a chegada aos donos. Só vamos pegar o responsável seguindo o rastro do dinheiro. Se não houver quebra do sigilo, ele sai impune", disse Galiano.
No dia 19, o bioquímico responsável pelos testes, Wilson Antonio Molina, foi preso com material de exame para a Aids vencido. Ele foi indiciado por crime contra as relações de consumo e, como pagou uma fiança de R$ 1.000, responderá ao processo em liberdade.
A polícia irá procurar casos de óbitos causados por doenças não constatadas em exames fraudados. Se isso ocorrer, os responsáveis podem ser acusados de homicídio com dolo eventual (quando existe a consciência do risco).
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor de planos de saúde, iniciou ontem um processo de fiscalização no Itálica. A ANS já havia multado 15 vezes a operadora, num total de R$ 710 mil, em outros processos administrativos. (AMARÍLIS LAGE)


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