São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Vice-presidente queria negociar diretamente com controladores

VALDO CRUZ
LEILA SUWWAN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A prioridade do governo na negociação com os controladores amotinados era o retorno imediato ao trabalho. Para isso, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) chegou ao local pronto para garantir algo que o governo já concluiu ser inevitável, a desmilitarização do tráfego aéreo. E foi além: assinou compromisso de que não haveria punições pela rebelião, ciente das conseqüências de quebra de hierarquia.
Boa parte da negociação girou em torno da necessidade de definir de imediato um valor de gratificação para os controladores. Era uma exigência dos controladores que Bernardo conseguiu contornar e deixar para a reunião prometida para terça-feira. O argumento foi de que promessa salarial sem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria impossível.
Ao chegar no Cindacta-1 por volta das 22h30, foi recebido pelos sargentos perfilados. Alguns estavam exaltados. No começo de conversa, para "quebrar o gelo", assegurou que ninguém seria identificado como líder do motim.
A conversa durou cerca de 40 minutos. Demorou outros 30 minutos para redigir o termo de acordo -assinado pelo ministro e pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, também presente em nome da ministra Dilma Roussef, que era a presença exigida pelos controladores. Também acompanhou o grupo um assessor de Paulo Bernardo.
O ministro Waldir Pires (Defesa), que estava no Rio, foi vetado. E os controladores recusavam a presença de oficiais militares na sala.
Os controladores ficaram satisfeitos com o estilo do ministro do Planejamento, apesar de inicialmente terem dúvidas sobre sua relativa importância. Porém, ficou claro que falava com autoridade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Paulo Bernardo conquistou alguma simpatia pelo estilo "apressado", "objetivo" e "direto", que contrastou fortemente com a demora e evasão do ministro Waldir Pires (Defesa).
Consideraram que o governo "acertou" ao tratar do assunto como uma negociação sindical, sem militarismo.
E agradou o fato de que fora Lula que tinha vetado prisões ou punições. O próprio ministro Paulo Bernardo concluiu que não haveria volta ao trabalho sem essa garantia, mesmo com a grave repercussão para a quebra de hierarquia. O único atenuante era que a desmilitarização era inevitável, conforme avaliou o gabinete de crise.
O vice-presidente, José Alencar, queria negociar pessoalmente, mas, como estava na Presidência interinamente, foi decidido preservá-lo. Depois que o acordo foi assinado, Lula foi informado pelo ministro Franklin Martins (Comunicação Social) e por Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete.
Cerca de uma hora depois, o presidente telefonou para Paulo Bernardo e pediu para ser informado da situação.


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