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Vice-presidente queria negociar diretamente com controladores
VALDO CRUZ
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A prioridade do governo na
negociação com os controladores amotinados era o retorno
imediato ao trabalho. Para isso,
o ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) chegou ao local
pronto para garantir algo que o
governo já concluiu ser inevitável, a desmilitarização do tráfego aéreo. E foi além: assinou
compromisso de que não haveria punições pela rebelião, ciente das conseqüências de quebra
de hierarquia.
Boa parte da negociação girou em torno da necessidade de
definir de imediato um valor de
gratificação para os controladores. Era uma exigência dos
controladores que Bernardo
conseguiu contornar e deixar
para a reunião prometida para
terça-feira. O argumento foi de
que promessa salarial sem o
aval do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva seria impossível.
Ao chegar no Cindacta-1 por
volta das 22h30, foi recebido
pelos sargentos perfilados. Alguns estavam exaltados. No começo de conversa, para "quebrar o gelo", assegurou que ninguém seria identificado como
líder do motim.
A conversa durou cerca de 40
minutos. Demorou outros 30
minutos para redigir o termo
de acordo -assinado pelo ministro e pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice
Guerra, também presente em
nome da ministra Dilma Roussef, que era a presença exigida
pelos controladores. Também
acompanhou o grupo um assessor de Paulo Bernardo.
O ministro Waldir Pires (Defesa), que estava no Rio, foi vetado. E os controladores recusavam a presença de oficiais
militares na sala.
Os controladores ficaram satisfeitos com o estilo do ministro do Planejamento, apesar de
inicialmente terem dúvidas sobre sua relativa importância.
Porém, ficou claro que falava
com autoridade do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Paulo Bernardo conquistou
alguma simpatia pelo estilo
"apressado", "objetivo" e "direto", que contrastou fortemente
com a demora e evasão do ministro Waldir Pires (Defesa).
Consideraram que o governo
"acertou" ao tratar do assunto
como uma negociação sindical,
sem militarismo.
E agradou o fato de que fora
Lula que tinha vetado prisões
ou punições. O próprio ministro Paulo Bernardo concluiu
que não haveria volta ao trabalho sem essa garantia, mesmo
com a grave repercussão para a
quebra de hierarquia. O único
atenuante era que a desmilitarização era inevitável, conforme avaliou o gabinete de crise.
O vice-presidente, José Alencar, queria negociar pessoalmente, mas, como estava na
Presidência interinamente, foi
decidido preservá-lo. Depois
que o acordo foi assinado, Lula
foi informado pelo ministro
Franklin Martins (Comunicação Social) e por Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete.
Cerca de uma hora depois, o
presidente telefonou para Paulo Bernardo e pediu para ser informado da situação.
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