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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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Fantasma maior é o reencontro

DO "AGORA"

Além do sofrimento inicial da separação e do trauma de anos, as mulheres vítimas de violência doméstica têm ainda que conviver com o temor do possível reencontro com o ex-marido.
Na tarde da sexta-feira, Neila, 23, voltava de sua primeira audiência com o ex-marido. "Olha como minhas mãos ainda estão tremendo. Eu não sabia que ia encontrá-lo lá. Quando o vejo, lembro das coisas que ele me fazia, quando eu pedia para não me bater. Mas ele não me ouvia", disse.
Há dois meses, Neila saiu de casa depois de uma briga com o marido e nunca mais voltou. A solução foi viver -com o filho de um ano e sete meses- em um abrigo para mulheres vítimas de violência. Mudar de casa para um abrigo -cujo endereço é mantido em sigilo pelo governo estadual- não foi suficiente para que Neila se visse livre do marido.
"Precisei mudar de emprego para ele não me achar." Segundo Neila, o marido, que sabia onde ela trabalhava, chegou a ir até o local para ameaçá-la. "Hoje, tenho medo até de encontrá-lo na rua."
Foram quase dois anos de uma história marcada por agressões. "No início, tudo era bom. Mas, uns oito meses depois, ele já começou a me bater", lembra. Neila conta que o marido saía de casa e voltava drogado. "Aí sempre me batia e me forçava a ter relações sexuais. Uma vez, chegou a me jogar da escada. Fiquei muito machucada, foi horrível."
Para Neila, o medo das ameaças feitas pelo marido era o que a mantinha em casa. "Ele também prometia que nunca mais ia me bater. No começo, eu acreditava."
Ir até a delegacia, para muitas mulheres, não significa registrar queixa contra o marido. "Muitas vêm aqui só para obter informações. Algumas até me pedem para conversar com o marido", diz a delegada Márcia Salgado.
E registrar queixa não representa, necessariamente, processar o agressor. A aprovação da lei 9.099/95 mudou a rotina nos Juizados Especiais. As agredidas passaram a ter a opção de voltar atrás nas denúncias.
Antes, a partir de uma denúncia, o caso obrigatoriamente se tornava um processo criminal e o agressor deveria ser julgado. "Muitas usam a denúncia na esperança de amedrontar o marido e depois se arrependem", diz.



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