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Lobby tentou proibir merenda terceirizada
Representante de grupo municiou deputado Sandro Mabel, que propôs emenda a medida provisória tentando vetar terceirização
Após trocar e-mails com empresário, parlamentar usou argumentos idênticos ao dele ao propor a emenda, que acabou sendo rejeitada
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma emenda que previa a
proibição da terceirização da
merenda escolar, apresentada
na Câmara pelo deputado federal Sandro Mabel (PR-GO) na
discussão da Medida Provisória
455, usou argumentos idênticos aos do representante da Fábrica Mabel em São Paulo,
Marcos Antonio Ferreira.
O deputado é dono da empresa, que é fornecedora de alimentos para órgãos públicos. O
aumento da terceirização tem
tomado espaço dos fornecedores tradicionais.
Ferreira encabeçou o grupo
de 11 empresas que, entre 2006
e 2008, realizou denúncias e
impugnações de editais lançados por prefeituras, para conter
a terceirização da merenda
-um mercado de R$ 2 bilhões
em 2009. O lobby foi revelado
anteontem pela Folha.
A emenda foi rejeitada. Ferreira e Mabel trocaram e-mails
poucos dias antes do final do
prazo para apresentação de
emendas à MP, que trata dos
recursos da União para a merenda. O programa do governo
federal repassou a prefeituras
R$ 1,49 bilhão em 2008.
Em janeiro, a chefe de gabinete de Mabel, Solange Lima,
pediu orientações sobre como
agir em relação à MP. O deputado enviou e-mail a Marcos
Ferreira: "Aqui está uma ótima
oportunidade para inserirmos
tudo que queremos, inclusive
proibindo terceirização".
"Temos que ser rápidos. Estude e vamos mandar brasa
aqui, inclusive juntando a denúncia", escreveu o parlamentar, em referência às denúncias
que atingiram o programa da
prefeitura paulistana.
Nas respostas, Ferreira sugeriu a inclusão de um artigo que
proibisse a terceirização da
merenda no país. Argumentou
que a MP havia excluído um artigo proibitivo do projeto de lei
2.877/08. Os argumentos apresentados por Ferreira no
e-mail são idênticos aos usados
por Sandro Mabel nas justificativas da sua emenda.
Ferreira escreveu: "A justificativa para a inclusão da emenda, além de todos os escândalos
e da quadrilha que tomou posse da terceirização (...)".
O deputado escreveu: "A justificativa para a inclusão desta
emenda, além de todos os escândalos, e da quadrilha que
tomou posse da terceirização
no preparo da merenda escolar
(...)". As repetições alcançam
pelo menos quatro dos cinco
parágrafos da justificativa.
O relator da MP, Carlos Abicalil (PT-MT), rejeitou a emenda de Mabel. A MP aguarda votação em plenário na Câmara.
Ação trabalhista
A troca de e-mails foi anexada a uma ação trabalhista movida pelo advogado Sidney Melquíades de Queiroz contra o
grupo de 11 empresas que atuou
contra as tentativas das prefeituras de terceirizar a merenda.
Queiroz diz na ação que foi
contratado pelas empresas
(que vendem enlatados, biscoitos e carnes às prefeituras) para
apresentar denúncias e pedidos de impugnações de editais.
Na maioria dos casos, não revelava que trabalhava para adversários diretos da terceirização.
Na ação movida na 2ª Vara do
Trabalho de São Caetano do Sul
(SP), alegou vínculo contratual
com as empresas e revelou que
o plano era barrar as terceirizações no país, que estariam reduzindo o mercado -quando a
merenda é terceirizada, em geral os kits de refeição chegam
prontos às escolas.
O advogado disse ter impugnado mais de 120 licitações.
Confirmou à Folha, em entrevista publicada no sábado, que
agia em nome próprio para
"preservar" as empresas.
Cópia da ação foi obtida pela
assessoria jurídica da empresa
terceirizada SP Alimentação
-alvo de investigação da Promotoria por suspeitas de irregularidades em contratos com
a Prefeitura de SP- e encaminhada à Folha na semana passada. A SP Alimentação já denunciou o caso à Justiça.
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