São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001 |
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180 DIAS Um mês depois do previsto, prefeitura deve começar a distribuir bolsas dos projetos do programa de governo petista Com atraso, projetos chegam para 12.388
ESTANISLAU MARIA DA REPORTAGEM LOCAL "Com a bolsa, vou poder participar dos eventos da escola: passeios, trabalhos, festas... Eu sempre ficava fora de tudo, porque não tinha dinheiro para pagar." Assim a estudante da sétima série Lidiana de Souza, 16, que mora no Capão Redondo (bairro da zona sul de São Paulo), definiu a diferença que os R$ 81 mensais do programa Bolsa Trabalho farão. Em Lajeado (zona leste), a dona-de-casa Roseane da Silva, 20, preocupava-se em tirar uma segunda via de seu cartão magnético do banco. A bolsa do Renda Mínima nem saiu, mas ela já perdeu o cartão dado pela prefeitura. É com o cartão que os primeiros 12.388 selecionados poderão receber, a partir do próximo dia 13. Com um mês de atraso, a prefeitura começa a distribuir 8.867 bolsas de até um salário mínimo para famílias selecionadas no Renda Mínima, 1.646 bolsas de R$ 81 (45% do salário mínimo) para estudantes de 16 a 20 anos, no Bolsa Trabalho, e 1.875 benefícios de R$ 120 (66% do mínimo) para desempregados com mais de 40 anos, no Começar de Novo. Esperançosa de tirar um novo cartão até o dia do pagamento, Roseane já fazia as contas para poder comprar leite para seu filho de seis meses e alimentar as outras seis pessoas que dividem a pequena casa. O marido, Éder, de 20 anos, faz bicos. Os três cunhados estão desempregados. Os sogros são camelôs e mantêm a família com R$ 200 mensais. Estudo x trabalho "É bom que vou estudar sossegado, sem o risco de largar no meio", disse Cidmar Chaves, 17, aluno da oitava série, resumindo uma preocupação dos jovens chamados para o Bolsa Trabalho, que têm de manter nota e presença na escola e recebem capacitação da prefeitura em outro período. Lidiana tem seis irmãos; Cidmar tem quatro; e suas mães precisam de ajuda no orçamento. Fabíola Pereira, 16, aluna da oitava série, mora com mãe, avós e dois irmãos mais novos. A renda dela será a única fixa em casa. "Já vinha pensando em largar a escola para poder sustentar meus irmãos", contou a menina. Ellen Araújo, 20, aluna do supletivo do curso médio, até que tentou trabalhar, mas não conseguiu conciliar com o estudo. "Eram duas horas para ir de ônibus e duas para voltar. Chegava exausta e ainda perdia aulas", afirmou ela, que trabalhou por dois meses como auxiliar de escritório no centro. Ellen, mãe, padrasto e seis irmãos sobrevivem com renda mensal de R$ 600. Só aluguel, luz e água consomem R$ 320. Outro motivo que levou os jovens às filas do Bolsa Trabalho foi a falta de emprego na região. Todos os ouvidos pela Folha disseram ter procurado sem sucesso. O desemprego também levou Celina Batista do Nascimento, 42, para o Renda Mínima. "Era doméstica, mas, há sete anos, não consigo um trabalho fixo", contou Celina, que cata papelão e latinhas e tem sete filhos. Os menores -um de dez meses, outro de quatro anos- moram com ela em São Paulo; os de nove, 13, 14, 18 e 20 anos, com a mãe dela na Bahia. "Meu maior sonho? Poder um dia comprar um iogurte para os dois pequenos e rever os da Bahia, que não vejo faz dois anos", disse. Na primeira fase, depois de inscritas em abril, foram selecionadas famílias dos bairros de Lajeado e Capão Redondo, por concentrarem pobreza e violência. Os 6.931 selecionados de Capão Redondo irão receber R$ 1 milhão por mês; os 5.457 de Lajeado, R$ 700 mil. Até dezembro deste ano, os programas deverão ser estendidos a Grajaú, Brasilândia, Parelheiros, Anhanguera, Cidade Tiradentes, Iguatemi, Jardim Ângela e Campo Limpo. O Renda Mínima deve chegar a 60 mil famílias; o Bolsa Trabalho, a 13 mil estudantes, e o Começar de Novo, a 11 mil desempregados. Estão previstos R$ 64 milhões. Texto Anterior: Contratação de médicos para projeto ainda é problema Próximo Texto: Burocracia é o maior obstáculo, diz secretário Índice |
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