São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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TRANSPORTE

Racha de empresários põe fim a boicote

ALENCAR IZIDORO
MELISSA DINIZ

DA REPORTAGEM LOCAL

Um racha entre os empresários de ônibus de São Paulo pôs fim ao boicote do setor à contratação emergencial da administração Marta Suplicy para fornecer os serviços nos próximos seis meses.
A prefeitura conseguiu anteontem à noite a adesão de 8 das 42 viações, que controlam 20% da frota paulistana e assinaram os contratos, deixando as demais enfraquecidas. A principal surpresa do setor patronal, segundo a Folha apurou, foi a participação do empresário Belarmino Marta, um dos quatro maiores da capital paulista, no grupo que rompeu com a ação de boicote.
Depois de conversas individuais do secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, com diversos empresários, todos resolveram aderir às novas regras no final da tarde, um dia depois do prazo dado pela prefeita Marta Suplicy.
"Não há vencedores nem vencidos. Ganha a cidade", disse Marta ontem à noite, quando foi ver um jogo de futebol no Pacaembu.
O principal motivo de divergência das empresas nos novos contratos envolve a forma de pagamento: a partir de hoje, 70% da arrecadação será utilizada para remunerar conforme a quantidade de passageiros -até então, esse índice era de apenas 35%.
Os 30% restantes serão repassados de acordo com os custos fixos operacionais. A mudança visa incentivar as viações a investir no sistema e buscar os usuários. Na prática, ela não interfere na quantidade de dinheiro repassada ao setor -apenas na distribuição da verba entre os empresários.
Os que atuam no extremo das zonas leste e sul se consideram prejudicados porque alegam ter despesas maiores de transporte.
Os das zonas norte e oeste, porém, eram favoráveis. Por exemplo, as viações Via Norte, Brasil Luxo e São Paulo, do grupo Belarmino Marta, e as independentes Santa Brígida, Nações Unidas, OAK Tree, Castro e Gato Preto, que operam nessas regiões e assinaram os contratos anteontem.
Belarmino é um dos quatro empresários que controlam 60% da frota paulistana. O representante de um dos grandes grupos afirmou à Folha que a ação de rompimento ao boicote foi considerada uma "traição", porque as viações acertaram com Marta sem avisar os demais empresários.
A estratégia inicial do Transurb (sindicato patronal) era tentar uma divisão diferente dos recursos e pressionar para conseguir mais vantagens para todos.
A única promessa do governo Marta foi apertar a fiscalização contra os perueiros. Na última semana, pela primeira vez, 50 autônomos foram excluídos do sistema por ultrapassar a pontuação de multas fixada pela prefeitura.

Convencimento
Zarattini disse ontem que houve uma "vitória" após "um trabalho de convencimento". "Nós tivemos várias conversas para romper os obstáculos. A posição firme da prefeita foi decisiva para que houvesse resultados", afirmou.
O secretário havia cogitado no começo da semana a possibilidade de a prefeitura assumir os 10 mil veículos, por meio de encampamento, requisição da frota ou intervenção, caso os empresários não entregassem as propostas para a contratação emergencial.
Essa alternativa, porém, era considerada arriscada, já que as empresas estavam sem contrato há dez dias e a gestão Marta teria que assumir despesas imediatas, como os R$ 48 milhões de salários dos motoristas e cobradores, previstos para a próxima segunda.
Ela também enfrentava a resistência do sindicato dos trabalhadores. O presidente da entidade, Edivaldo Santiago, prometia parar os ônibus nas garagens que fossem tomadas pelo governo.
A prefeita havia dado um prazo até anteontem para a adesão das viações à contratação emergencial. "Quem não assinar está fora do sistema. Anote e cobre", prometeu Marta na semana passada.
Ontem, ela ensaiou um recuo, admitindo que as empresas de ônibus que participavam do boicote seriam barradas aos poucos. "Não vamos fazer tudo de imediato porque não podemos deixar a população sem transporte, mas já existe um plano para fazer em breve", disse. Marta Suplicy chegou a reconhecer que as viações têm prejuízo. "Hoje eles devem estar tendo prejuízo mesmo, porque eles relaxaram tanto que entraram as lotações e eles acabaram perdendo gente."
O Transurb, que no dia anterior alegava haver um prejuízo mensal de quase R$ 20 milhões no sistema de ônibus (17% da arrecadação tarifária), não quis se pronunciar após a adesão de todos os empresários. Pela manhã, Sérgio Pavani, presidente da entidade, disse que as oito empresas que haviam aderido tinham esse direito e não seriam "condenadas". "Somos democráticos."
Os novos contratos são válidos por seis meses e antecedem a licitação que a prefeitura quer fazer para selecionar novos operadores por até 25 anos, a partir de 2003.



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