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TRANSPORTE
Racha de empresários põe fim a boicote
ALENCAR IZIDORO
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Um racha entre os empresários
de ônibus de São Paulo pôs fim ao
boicote do setor à contratação
emergencial da administração
Marta Suplicy para fornecer os
serviços nos próximos seis meses.
A prefeitura conseguiu anteontem à noite a adesão de 8 das 42
viações, que controlam 20% da
frota paulistana e assinaram os
contratos, deixando as demais enfraquecidas. A principal surpresa
do setor patronal, segundo a Folha apurou, foi a participação do
empresário Belarmino Marta, um
dos quatro maiores da capital
paulista, no grupo que rompeu
com a ação de boicote.
Depois de conversas individuais
do secretário dos Transportes,
Carlos Zarattini, com diversos
empresários, todos resolveram
aderir às novas regras no final da
tarde, um dia depois do prazo dado pela prefeita Marta Suplicy.
"Não há vencedores nem vencidos. Ganha a cidade", disse Marta
ontem à noite, quando foi ver um
jogo de futebol no Pacaembu.
O principal motivo de divergência das empresas nos novos contratos envolve a forma de pagamento: a partir de hoje, 70% da
arrecadação será utilizada para
remunerar conforme a quantidade de passageiros -até então, esse índice era de apenas 35%.
Os 30% restantes serão repassados de acordo com os custos fixos
operacionais. A mudança visa incentivar as viações a investir no
sistema e buscar os usuários. Na
prática, ela não interfere na quantidade de dinheiro repassada ao
setor -apenas na distribuição da
verba entre os empresários.
Os que atuam no extremo das
zonas leste e sul se consideram
prejudicados porque alegam ter
despesas maiores de transporte.
Os das zonas norte e oeste, porém, eram favoráveis. Por exemplo, as viações Via Norte, Brasil
Luxo e São Paulo, do grupo Belarmino Marta, e as independentes
Santa Brígida, Nações Unidas,
OAK Tree, Castro e Gato Preto,
que operam nessas regiões e assinaram os contratos anteontem.
Belarmino é um dos quatro empresários que controlam 60% da
frota paulistana. O representante
de um dos grandes grupos afirmou à Folha que a ação de rompimento ao boicote foi considerada
uma "traição", porque as viações
acertaram com Marta sem avisar
os demais empresários.
A estratégia inicial do Transurb
(sindicato patronal) era tentar
uma divisão diferente dos recursos e pressionar para conseguir
mais vantagens para todos.
A única promessa do governo
Marta foi apertar a fiscalização
contra os perueiros. Na última semana, pela primeira vez, 50 autônomos foram excluídos do sistema por ultrapassar a pontuação
de multas fixada pela prefeitura.
Convencimento
Zarattini disse ontem que houve uma "vitória" após "um trabalho
de convencimento". "Nós tivemos várias conversas para romper os obstáculos. A posição firme
da prefeita foi decisiva para que
houvesse resultados", afirmou.
O secretário havia cogitado no
começo da semana a possibilidade de a prefeitura assumir os 10
mil veículos, por meio de encampamento, requisição da frota ou
intervenção, caso os empresários
não entregassem as propostas para a contratação emergencial.
Essa alternativa, porém, era
considerada arriscada, já que as
empresas estavam sem contrato
há dez dias e a gestão Marta teria
que assumir despesas imediatas,
como os R$ 48 milhões de salários
dos motoristas e cobradores, previstos para a próxima segunda.
Ela também enfrentava a resistência do sindicato dos trabalhadores. O presidente da entidade,
Edivaldo Santiago, prometia parar os ônibus nas garagens que
fossem tomadas pelo governo.
A prefeita havia dado um prazo
até anteontem para a adesão das
viações à contratação emergencial. "Quem não assinar está fora
do sistema. Anote e cobre", prometeu Marta na semana passada.
Ontem, ela ensaiou um recuo,
admitindo que as empresas de
ônibus que participavam do boicote seriam barradas aos poucos.
"Não vamos fazer tudo de imediato porque não podemos deixar a população sem transporte,
mas já existe um plano para fazer
em breve", disse. Marta Suplicy
chegou a reconhecer que as viações têm prejuízo. "Hoje eles devem estar tendo prejuízo mesmo,
porque eles relaxaram tanto que
entraram as lotações e eles acabaram perdendo gente."
O Transurb, que no dia anterior
alegava haver um prejuízo mensal de quase R$ 20 milhões no sistema de ônibus (17% da arrecadação tarifária), não quis se pronunciar após a adesão de todos os
empresários. Pela manhã, Sérgio
Pavani, presidente da entidade,
disse que as oito empresas que
haviam aderido tinham esse direito e não seriam "condenadas".
"Somos democráticos."
Os novos contratos são válidos
por seis meses e antecedem a licitação que a prefeitura quer fazer
para selecionar novos operadores por até 25 anos, a partir de 2003.
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