São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Tiroteio fez pessoas na Sé pensarem em atentado

"Houve choro, pessoas caindo. Parecia filme americano", afirmou advogada

Autônomo que levou um tiro na testa disse ter sentido apenas um "risco, como se fosse um corte"; ele afirma ter nascido de novo

DA REPORTAGEM LOCAL

Idosas caídas no chão, mulheres tentando proteger seus bebês, bolsas perdidas, gritos, choro, sangue. Por ao menos 20 minutos, o clima na estação Sé do metrô fez muita gente associar o tiroteio a um atentado.
"As pessoas ouviam os tiros e acharam que eram bombas. Houve gritaria, choro, correria, pessoas caindo, passando mal, desesperadas. Parecia filme americano", relata a advogada Sandra Fontana, 30.
À espera do metrô na plataforma, o autônomo José Carlos Horas, 47, foi um dos que correram. "Vi um monte de gente correndo, sem saber o porquê, e corri também", disse. Até notar que havia sido atingido. "Me escondi no vão da escada e só senti um risco na minha testa, como se fosse um corte. Pus a mão na cabeça e senti um buraco, foi aí que vi o sangue na camisa, no chão", diz.
Ele disse só ter escutado o tiro, sem saber de onde a bala veio. "Não me apavorei, porque um rapaz me deu um pano branco para estancar o sangue e logo me disse: "Não esquenta, foi superficial o tiro"." Já com curativo na cabeça, Horas disse ter nascido de novo e que queria ir para casa e descansar -de carro. Nada de metrô.
Uma das pessoas que desmaiaram foi a degustadora de vinhos Suzette Silva, 25. Grávida de sete meses, ela veio da estação Ana Rosa, onde havia acertado um novo emprego, e parou na Sé para fazer baldeação e seguir para o Tatuapé.
"O trem ficou parado uns 15 minutos. Quando saí dele, já estava passando meio mal, só vi uma correria. Um assaltante, armado, esbarrou em mim na confusão. Depois disso, não sei de mais nada porque desmaiei. Acordei em meio a um monte de policiais, todos preocupados comigo", diz a jovem mãe. Ela foi a última a ser liberada do Hospital do Servidor Público Municipal, ontem à tarde.
A designer Neusa Costa, 47, disse considerar errada a atitude do policial ao reagir ao tiroteio porque pôs em risco a vida de muitas pessoas. "O heroísmo estraga tudo", disse ela. O estudante João Paulo Scarcioffolo, 21, que utiliza o metrô todos os dias para estagiar numa empresa na Sé, pensa o mesmo. "O policial foi completamente sem noção. Colocou em risco muitas vidas de inocentes."

Mudanças
Há oito dias Josivânia Monteiro de Moura, 20, chegou a São Paulo, onde pretendia viver para sempre. Ontem, desistiu dos planos e resolveu voltar para a casa da mãe, em Coremas (PB), onde sempre viveu.
A mudança de planos ocorreu às 12h40 de ontem ao ouvir os tiros disparados na Sé. "Mãe, eu quero voltar", disse ao ligar à família na Paraíba.
Mais do que o barulho dos tiros, mais do que os gritos e o desespero das pessoas correndo, Josivânia ficou assustada com o comportamento das pessoas diante da sua primeira cena de violência na capital paulista. "Tinha gente passando mal, gente caída no chão, um monte de polícia para todo lado, mas o povo estava bravo porque os trens tinham parado."
Coremas tem, segundo o IBGE, pouco mais de 15 mil habitantes. Na Sé passam por dia 650 mil pessoas. "As pessoas me disseram que eu não estou acostumada ainda com São Paulo. Dizem que aqui é assim. Quando uma pessoa morre, passa-se por cima", disse.
Mais de cinco horas após os tiroteios, o trauma da população ainda não havia desaparecido totalmente. Às 18h, do lado de fora da estação Sé, Neusa Costa -a mesma que havia criticado a ação do policial- e o filho Igor, 10, olhavam para as escadas do metrô. Permaneceram assim por cerca de três minutos e decidiram não entrar. "Vamos andando." (CLÁUDIA COLLUCCI, INGRID TAVARES, ROGÉRIO PAGNAN e ANDRÉ CARAMANTE)


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