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Tiroteio fez pessoas na Sé pensarem em atentado
"Houve choro, pessoas caindo. Parecia filme americano", afirmou advogada
Autônomo que levou um tiro na testa disse ter sentido apenas um "risco, como se fosse um corte"; ele afirma ter nascido de novo
DA REPORTAGEM LOCAL
Idosas caídas no chão, mulheres tentando proteger seus
bebês, bolsas perdidas, gritos,
choro, sangue. Por ao menos 20
minutos, o clima na estação Sé
do metrô fez muita gente associar o tiroteio a um atentado.
"As pessoas ouviam os tiros e
acharam que eram bombas.
Houve gritaria, choro, correria,
pessoas caindo, passando mal,
desesperadas. Parecia filme
americano", relata a advogada
Sandra Fontana, 30.
À espera do metrô na plataforma, o autônomo José Carlos
Horas, 47, foi um dos que correram. "Vi um monte de gente
correndo, sem saber o porquê, e
corri também", disse. Até notar
que havia sido atingido. "Me escondi no vão da escada e só senti um risco na minha testa, como se fosse um corte. Pus a
mão na cabeça e senti um buraco, foi aí que vi o sangue na camisa, no chão", diz.
Ele disse só ter escutado o tiro, sem saber de onde a bala
veio. "Não me apavorei, porque
um rapaz me deu um pano
branco para estancar o sangue
e logo me disse: "Não esquenta,
foi superficial o tiro"." Já com
curativo na cabeça, Horas disse
ter nascido de novo e que queria ir para casa e descansar -de
carro. Nada de metrô.
Uma das pessoas que desmaiaram foi a degustadora de
vinhos Suzette Silva, 25. Grávida de sete meses, ela veio da estação Ana Rosa, onde havia
acertado um novo emprego, e
parou na Sé para fazer baldeação e seguir para o Tatuapé.
"O trem ficou parado uns 15
minutos. Quando saí dele, já estava passando meio mal, só vi
uma correria. Um assaltante,
armado, esbarrou em mim na
confusão. Depois disso, não sei
de mais nada porque desmaiei.
Acordei em meio a um monte
de policiais, todos preocupados
comigo", diz a jovem mãe. Ela
foi a última a ser liberada do
Hospital do Servidor Público
Municipal, ontem à tarde.
A designer Neusa Costa, 47,
disse considerar errada a atitude do policial ao reagir ao tiroteio porque pôs em risco a vida
de muitas pessoas. "O heroísmo estraga tudo", disse ela. O
estudante João Paulo Scarcioffolo, 21, que utiliza o metrô todos os dias para estagiar numa
empresa na Sé, pensa o mesmo.
"O policial foi completamente
sem noção. Colocou em risco
muitas vidas de inocentes."
Mudanças
Há oito dias Josivânia Monteiro de Moura, 20, chegou a
São Paulo, onde pretendia viver
para sempre. Ontem, desistiu
dos planos e resolveu voltar para a casa da mãe, em Coremas
(PB), onde sempre viveu.
A mudança de planos ocorreu às 12h40 de ontem ao ouvir
os tiros disparados na Sé. "Mãe,
eu quero voltar", disse ao ligar à
família na Paraíba.
Mais do que o barulho dos tiros, mais do que os gritos e o desespero das pessoas correndo,
Josivânia ficou assustada com
o comportamento das pessoas
diante da sua primeira cena de
violência na capital paulista.
"Tinha gente passando mal,
gente caída no chão, um monte
de polícia para todo lado, mas o
povo estava bravo porque os
trens tinham parado."
Coremas tem, segundo o IBGE, pouco mais de 15 mil habitantes. Na Sé passam por dia
650 mil pessoas. "As pessoas
me disseram que eu não estou
acostumada ainda com São
Paulo. Dizem que aqui é assim.
Quando uma pessoa morre,
passa-se por cima", disse.
Mais de cinco horas após os
tiroteios, o trauma da população ainda não havia desaparecido totalmente. Às 18h, do lado
de fora da estação Sé, Neusa
Costa -a mesma que havia criticado a ação do policial- e o filho Igor, 10, olhavam para as escadas do metrô. Permaneceram assim por cerca de três minutos e decidiram não entrar.
"Vamos andando."
(CLÁUDIA COLLUCCI, INGRID TAVARES, ROGÉRIO PAGNAN e ANDRÉ CARAMANTE)
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