São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2001

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SEGURANÇA

Advogado de José Eduardo Bernardes da Silva, indiciado pela polícia de São Paulo, disse que ele irá se apresentar

Funcionário da Anistia nega envio de bomba

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES

O funcionário da Anistia Internacional José Eduardo Bernardes da Silva negou ontem as acusações feitas contra ele pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Ele foi indiciado pela polícia por atentados a bomba ocorridos no ano passado.
Professor de educação física, Silva, 40, está na Espanha e falou ontem, por telefone, com o seu advogado no Brasil, Alexandre Crepaldi. ""Conversei com ele. Ele nega, diz que não foi ele e que não sabe por que está sendo acusado disso", afirmou Crepaldi, contratado pela família de Silva.
Segundo Crepaldi, o professor irá se apresentar à polícia logo que for chamado para depor no inquérito. ""Toda prova tem de ser analisada e não há nenhuma que não seja inquestionável."
Anteontem, o secretário da Segurança Pública do Estado, Marco Vinicio Petrelluzzi, apresentou relatório da polícia afirmando que a caligrafia do funcionário da Anistia bate com a dos bilhetes enviados com bombas para entidades de direitos humanos na capital, na semana que antecedeu o feriado de 7 de Setembro.
O próprio Silva, que vive sob a proteção da Anistia na Europa desde a série de atentados, recebeu duas pelo correio e apontou os skinheads como os responsáveis pelos pacotes-bombas. Uma terceira foi para o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgênero), em São Paulo.
A polícia ainda não marcou a data para que o funcionário da Anistia se apresente para depor. Se não aparecer, o delegado Marcos Ricardo Parra pode pedir a prisão preventiva dele.
A Anistia Internacional informou ontem, em Londres, que só vai se pronunciar sobre a acusação apresentada pela polícia brasileira contra Silva quando receber cópia do inquérito policial.
"Até o momento não recebemos esses documentos e não podemos fazer comentários a respeito", disse à Folha, em Londres, Javier Zuñiga, diretor-geral para as Américas. "Assim que tivermos acesso a esses documentos nós vamos nos pronunciar."
Em nota oficial divulgada ontem, a Anistia Internacional afirmou que lamentava o fato de as conclusões da polícia terem sido apresentadas antes à imprensa, e não à entidade. "Isso nos deixou em uma situação difícil, a de ter de comentar algo cujo teor ainda não conhecíamos completamente."
Zuñiga confirmou que representantes da Anistia participaram da coletiva anteontem, em São Paulo, mas não obtiveram cópia do inquérito policial. Patrícia Roguet, que esteve na reunião, saiu antes do final, sem falar com ninguém. "Já conversamos com ele (Silva) e ele reagiu com surpresa ao resultado do inquérito.", disse.
Na nota oficial, a Anistia solicita que o caso seja conduzido dentro de padrões internacionais de Justiça e reitera que todas as pessoas devem ser consideradas inocentes antes que sua culpa seja provada.
"A Anistia Internacional vai continuar sua campanha pelos direitos humanos no Brasil, incluindo os direitos dos gays, lésbicas e outras minorias", conclui a nota.
Segundo a assessoria do secretário da Segurança Pública de São Paulo, havia uma promessa, feita no início das investigações, de que as entidades de direitos humanos conheceriam o autor dos atentados antes da imprensa. Horas antes de divulgar o laudo do Instituto de Criminalística, Petrelluzzi se encontrou com integrantes de diversas organizações.




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