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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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BERÇO ESPLÊNDIDO

Com cursos e salários variando de R$ 800 a R$ 2.600, elas têm o carinho dos bebês e a devoção das patroas

Com currículo vasto, "superbabás" assumem papel da mãe

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA

Aprumadas em uniformes impecáveis, elas empurram carrinhos com mais acessórios que um Mercedes e frequentam a parte social da casa. Ao lado dos patrões, circulam pelos melhores clubes e restaurantes e vivem no circuito Angra-Maresias-Disney.
As "superbabás" são experts em bebês bem-nascidos. Com currículos recheados, são a elite dos empregados domésticos do país, ganham de R$ 800 a R$ 2.600, têm apartamento e carro. "Batalhei muito para estar aqui. Fiz curso de auxiliar de enfermagem, farmácia e inglês", diz Aparecida Conceição Santana, 52, a Cida.
Separada, sem filhos, 27 anos de experiência, Cida evita ficar mais de um ano em uma casa. "Gosto de cuidar de recém-nascido."
Como ela, outras superbabás não gostam de correr atrás de bebês que começam a engatinhar. ALém disso, o salário, a longo prazo, pesa no orçamento. Ana Luiza de Orleans e Bragança Mansour, 31, patroa de Cida, tem uma babá "mais barata" (R$ 1.400) para o filho mais velho, Rodrigo, 5, e Cida, 13 salários mínimos, para Guilherme, dois meses.
Mas não é fácil encontrar uma babá com a qual o "santo case", diz Ana Luiza. "Não recontratei a enfermeira do Rodrigo porque era muito germânica. Meu marido chegava, queria ver o filho e ela impunha mil obstáculos: "Hoje, o bebê está excepcionalmente cansado, seria bom não excitá-lo"."
A publicitária Fernanda Correa Franco, 32, mãe de primeira viagem, está na quinta babá ("e o Raphael só tem um mês"), mas não dispensa o serviço. "Quando ela folga, pago outra por hora. A babá tem o manual de instrução da criança, sabe quando o choro é de fome, sono ou nada demais."
José Claudionor da Silva Souza, 50, pediatra neonatologista da maternidade Santa Joana, em São Paulo, critica essa dependência. "A mulher deve aprender errando. Quantos casos você conhece de mães que afogaram o filho? Em 25 anos de experiência, não conheço nenhum", diz. Para ele, o currículo também não importa tanto. "Por que não pode ser uma pessoa simples, de creche, que tem experiência com criança?"

Imagem é tudo
Para a pediatra Sandra de Oliveira Campos, professora da Unifesp, contratar uma superbabá envolve status. "A babá cara funciona mais como grife da mãe que consome Daslu. A mesma criança que teve enfermeira ou babá cara frequentará a escolinha de natação do clube X, fará balé na academia Y, estudará no colégio Z."
O problema, dizem as babás, é que muitas mães acabam delegando a elas toda a rotina. "No primeiro mês é aquela euforia. Depois, não abrem mão do bem-estar delas de jeito nenhum", diz Cleonice Rita de Jesus, 45, a Nice.
Nice, que receberá R$ 3.500 para cuidar de trigêmeos ("fiz preço especial, o certo seria R$ 4.500"), ainda cobre "buracos" como folguista, a R$ 10 por hora.
Por medo ou luxo, as babás "valem cada centavo", dizem as patroas. "Pago o preço para ter bom humor, sorrir para o marido, dormir", diz a publicitária Fernanda.
A afeição do filho de seis meses pela babá, Inalda Gonçalves de Oliveira, 42, não incomoda a comerciante Andréa Nacif Ambrósio, 37. "Os olhinhos do Rafa brilham quando a Nana chega. Acho ótimo, sinal de que gosta dela." Maria Augusta de Freitas, obstetriz da maternidade Santa Joana, prefere ver a mãe presente. "No banho, a mãe faz tudo torto, deixa o bebê chorar. Mas é melhor. Nada como carinho de mãe."


Colaboraram Luciana Macedo e Kiyomori Mori, da Revista

Leia a íntegra da reportagem da Revista no site www.uol.com.br/revista


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