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BERÇO ESPLÊNDIDO
Com cursos e salários variando de R$ 800 a R$ 2.600, elas têm o carinho dos bebês e a devoção das patroas
Com currículo vasto, "superbabás" assumem papel da mãe
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA
Aprumadas em uniformes impecáveis, elas empurram carrinhos com mais acessórios que um
Mercedes e frequentam a parte
social da casa. Ao lado dos patrões, circulam pelos melhores
clubes e restaurantes e vivem no
circuito Angra-Maresias-Disney.
As "superbabás" são experts em
bebês bem-nascidos. Com currículos recheados, são a elite dos
empregados domésticos do país,
ganham de R$ 800 a R$ 2.600, têm
apartamento e carro. "Batalhei
muito para estar aqui. Fiz curso
de auxiliar de enfermagem, farmácia e inglês", diz Aparecida
Conceição Santana, 52, a Cida.
Separada, sem filhos, 27 anos de
experiência, Cida evita ficar mais
de um ano em uma casa. "Gosto
de cuidar de recém-nascido."
Como ela, outras superbabás
não gostam de correr atrás de bebês que começam a engatinhar.
ALém disso, o salário, a longo
prazo, pesa no orçamento. Ana
Luiza de Orleans e Bragança
Mansour, 31, patroa de Cida, tem
uma babá "mais barata" (R$
1.400) para o filho mais velho, Rodrigo, 5, e Cida, 13 salários mínimos, para Guilherme, dois meses.
Mas não é fácil encontrar uma
babá com a qual o "santo case",
diz Ana Luiza. "Não recontratei a
enfermeira do Rodrigo porque
era muito germânica. Meu marido chegava, queria ver o filho e ela
impunha mil obstáculos: "Hoje, o
bebê está excepcionalmente cansado, seria bom não excitá-lo"."
A publicitária Fernanda Correa
Franco, 32, mãe de primeira viagem, está na quinta babá ("e o Raphael só tem um mês"), mas não
dispensa o serviço. "Quando ela
folga, pago outra por hora. A babá
tem o manual de instrução da
criança, sabe quando o choro é de
fome, sono ou nada demais."
José Claudionor da Silva Souza,
50, pediatra neonatologista da
maternidade Santa Joana, em São
Paulo, critica essa dependência.
"A mulher deve aprender errando. Quantos casos você conhece
de mães que afogaram o filho? Em
25 anos de experiência, não conheço nenhum", diz. Para ele, o
currículo também não importa
tanto. "Por que não pode ser uma
pessoa simples, de creche, que
tem experiência com criança?"
Imagem é tudo
Para a pediatra Sandra de Oliveira Campos, professora da Unifesp, contratar uma superbabá
envolve status. "A babá cara funciona mais como grife da mãe que
consome Daslu. A mesma criança
que teve enfermeira ou babá cara
frequentará a escolinha de natação do clube X, fará balé na academia Y, estudará no colégio Z."
O problema, dizem as babás, é
que muitas mães acabam delegando a elas toda a rotina. "No
primeiro mês é aquela euforia.
Depois, não abrem mão do bem-estar delas de jeito nenhum", diz
Cleonice Rita de Jesus, 45, a Nice.
Nice, que receberá R$ 3.500 para cuidar de trigêmeos ("fiz preço
especial, o certo seria R$ 4.500"),
ainda cobre "buracos" como folguista, a R$ 10 por hora.
Por medo ou luxo, as babás "valem cada centavo", dizem as patroas. "Pago o preço para ter bom
humor, sorrir para o marido, dormir", diz a publicitária Fernanda.
A afeição do filho de seis meses
pela babá, Inalda Gonçalves de
Oliveira, 42, não incomoda a comerciante Andréa Nacif Ambrósio, 37. "Os olhinhos do Rafa brilham quando a Nana chega. Acho
ótimo, sinal de que gosta dela."
Maria Augusta de Freitas, obstetriz da maternidade Santa Joana,
prefere ver a mãe presente. "No
banho, a mãe faz tudo torto, deixa
o bebê chorar. Mas é melhor. Nada como carinho de mãe."
Colaboraram Luciana Macedo e Kiyomori Mori, da Revista
Leia a íntegra da reportagem da Revista no site www.uol.com.br/revista
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