São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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Novo tratamento de mioma uterino causa polêmica

Médicos divergem sobre eficácia de terapia não-invasiva com aparelho que associa ressonância magnética a ultra-som

Problema atrapalha a vida de 30% das mulheres em idade reprodutiva, que sofrem com fortes cólicas e sangramentos

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A chegada de um novo equipamento no país para tratar miomas uterinos engrossa a polêmica sobre qual a melhor terapia para o problema que atrapalha a vida de 30% das mulheres em idade reprodutiva, que sofrem com fortes cólicas e sangramentos.
O aparelho, que associa ressonância magnética a ultra-som, promete inativar o mioma (tumor benigno que se desenvolve na massa muscular do útero) sem corte e sem dor. Seu registro foi aprovado pela Anvisa no ano passado e o primeiro equipamento já está em uso no Hospital Barra D'Or, no Rio.
Hoje, há pelo menos outras quatro opções de tratar miomas. As mais tradicionais são medicações e a miomectomia (retirada do mioma por cirurgia tipo cesária, por laparoscopia ou por via vaginal, a chamada cirurgia por orifício natural).
Outra opção é a embolização, um tratamento que obstrui a artéria que leva o sangue ao nódulo, ou o próprio mioma, inativando-o. E a alternativa mais radical, que é a histerectomia (retirada do útero), indicada para casos mais graves.
Segundo a médica radiologista Fernanda Chagas de Melo, do Hospital Barra D'Or, o tratamento com ultra-som é eficaz e não-invasivo, o que o torna mais atrativo, mas não são todas as mulheres que podem se beneficiar com ele.
"Não estão indicados miomas que estão totalmente para fora do útero ou totalmente dentro da cavidade endometrial, por exemplo." Em miomas acima de 10 cm, são necessárias duas sessões, diz ela.
Até agora, a clínica tratou 17 mulheres com o aparelho e conseguiu com que a Golden Cross o incluísse no rol de procedimentos cobertos pelo plano de saúde. O tratamento custa em torno de R$ 10 mil.
Melo explica que o ultra-som emite ondas de 65C a 85C, que provocam a necrose do mioma. "Não precisa de corte. Você inativa o tumor através de ondas de ultra-som focadas no mioma, que são monitoradas em tempo real pelas imagens da ressonância magnética."
O otimismo em relação ao tratamento com ultra-som não se aplica à grande parte da comunidade médica. Para o ginecologista e obstetra Thomaz Gollop, não há evidências científicas da sua eficácia. "Em tese, só serviria para um mioma único, menor que 6 cm e, pelo que sei, a reincidência [dos miomas] é considerada elevada. É ainda experimental."
O ginecologista Marcos Messina, do grupo de miomas do Hospital das Clínicas de São Paulo, é da mesma opinião. "Não entendi qual o perfil de mulheres que se beneficiaria com esse aparelho." Ele explica que, para aquelas com um ou dois miomas que sangram, o "padrão ouro" de tratamento é a miomectomia. "É uma cirurgia relativamente simples, que tira o problema pela raiz."
Mas é uma cirurgia que demanda anestesia geral, internação e repouso no pós-operatório, não é doutor?
"O que são 15 dias na vida de uma mulher? Precisamos acabar com essa fantasia de que é possível resolver um problema dessa natureza num dia e no dia seguinte a mulher já está no shopping fazendo compra. O ultra-som diminui o mioma de tamanho, não acaba com ele."
O radiologista intervencionista Francisco Carnevale, do hospital Sírio Libanês, também faz ressalvas ao ultra-som: "É uma opção de tratamento, mas hoje em dia existem inúmeras outras opções. A grande maioria das mulheres tem múltiplos nódulos, situação em que o ultra-som não está indicado".
Nesse caso, explica ele, a embolização teria mais vantagem por conseguir, em um único procedimento, inativar todos os miomas. O procedimento demanda um dia de internação.
O médico lembra que muitos miomas nem precisam ser tratados porque têm pequeno volume e são assintomáticos.


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