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Novo tratamento de mioma uterino causa polêmica
Médicos divergem sobre eficácia de terapia não-invasiva com aparelho que associa ressonância magnética a ultra-som
Problema atrapalha a vida de 30% das mulheres em idade reprodutiva,
que sofrem com fortes cólicas e sangramentos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A chegada de um novo equipamento no país para tratar
miomas uterinos engrossa a
polêmica sobre qual a melhor
terapia para o problema que
atrapalha a vida de 30% das
mulheres em idade reprodutiva, que sofrem com fortes cólicas e sangramentos.
O aparelho, que associa ressonância magnética a ultra-som, promete inativar o mioma
(tumor benigno que se desenvolve na massa muscular do
útero) sem corte e sem dor. Seu
registro foi aprovado pela Anvisa no ano passado e o primeiro
equipamento já está em uso no
Hospital Barra D'Or, no Rio.
Hoje, há pelo menos outras
quatro opções de tratar miomas. As mais tradicionais são
medicações e a miomectomia
(retirada do mioma por cirurgia tipo cesária, por laparoscopia ou por via vaginal, a chamada cirurgia por orifício natural).
Outra opção é a embolização,
um tratamento que obstrui a
artéria que leva o sangue ao nódulo, ou o próprio mioma, inativando-o. E a alternativa mais
radical, que é a histerectomia
(retirada do útero), indicada
para casos mais graves.
Segundo a médica radiologista Fernanda Chagas de Melo,
do Hospital Barra D'Or, o tratamento com ultra-som é eficaz e
não-invasivo, o que o torna
mais atrativo, mas não são todas as mulheres que podem se
beneficiar com ele.
"Não estão indicados miomas que estão totalmente para
fora do útero ou totalmente
dentro da cavidade endometrial, por exemplo." Em miomas acima de 10 cm, são necessárias duas sessões, diz ela.
Até agora, a clínica tratou 17
mulheres com o aparelho e
conseguiu com que a Golden
Cross o incluísse no rol de procedimentos cobertos pelo plano de saúde. O tratamento custa em torno de R$ 10 mil.
Melo explica que o ultra-som
emite ondas de 65C a 85C,
que provocam a necrose do
mioma. "Não precisa de corte.
Você inativa o tumor através de
ondas de ultra-som focadas no
mioma, que são monitoradas
em tempo real pelas imagens
da ressonância magnética."
O otimismo em relação ao
tratamento com ultra-som não
se aplica à grande parte da comunidade médica. Para o ginecologista e obstetra Thomaz
Gollop, não há evidências científicas da sua eficácia. "Em tese,
só serviria para um mioma único, menor que 6 cm e, pelo que
sei, a reincidência [dos miomas] é considerada elevada. É
ainda experimental."
O ginecologista Marcos Messina, do grupo de miomas do
Hospital das Clínicas de São
Paulo, é da mesma opinião.
"Não entendi qual o perfil de
mulheres que se beneficiaria
com esse aparelho." Ele explica
que, para aquelas com um ou
dois miomas que sangram, o
"padrão ouro" de tratamento é
a miomectomia. "É uma cirurgia relativamente simples, que
tira o problema pela raiz."
Mas é uma cirurgia que demanda anestesia geral, internação e repouso no pós-operatório, não é doutor?
"O que são 15 dias na vida de
uma mulher? Precisamos acabar com essa fantasia de que é
possível resolver um problema
dessa natureza num dia e no dia
seguinte a mulher já está no
shopping fazendo compra. O
ultra-som diminui o mioma de
tamanho, não acaba com ele."
O radiologista intervencionista Francisco Carnevale, do
hospital Sírio Libanês, também
faz ressalvas ao ultra-som: "É
uma opção de tratamento, mas
hoje em dia existem inúmeras
outras opções. A grande maioria das mulheres tem múltiplos
nódulos, situação em que o ultra-som não está indicado".
Nesse caso, explica ele, a embolização teria mais vantagem
por conseguir, em um único
procedimento, inativar todos
os miomas. O procedimento
demanda um dia de internação.
O médico lembra que muitos
miomas nem precisam ser tratados porque têm pequeno volume e são assintomáticos.
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