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VIOLÊNCIA
Para eles, a grande incidência de casos de homicídio doloso continua restrita aos finais de semana e ao período noturno
Delegados desconheciam as estatísticas
DA REPORTAGEM LOCAL
Delegados seccionais de polícia
ouvidos pela Folha desconheciam os dados e as estatísticas sobre a ocorrência de homicídios
dolosos em São Paulo. Para eles, a
grande incidência dos casos continua restrita aos finais de semana
e ao período noturno.
O titular da Delegacia Seccional
do Centro de São Paulo, Jorge
Carlos Carrasco, diz-se surpreso
ao saber que 20% das ocorrências
de homicídio doloso em sua região, de janeiro a março de 2002,
ocorreram no período da manhã.
"Não tinha dado atenção para
isso", afirmou o delegado. Carrasco disse que vai fazer um levantamento dos boletins de ocorrência
para saber se esse percentual "é
coincidência ou não".
Carrasco afirmou que a grande
movimentação no centro da cidade durante a manhã deve justificar essa concentração de casos.
"São 4 milhões de pessoas que
transitam por dia no centro da cidade", disse o delegado.
Mas, para ele, os casos de homicídio doloso à luz do dia não são
motivados pelo sentimento de
impunidade. "O criminoso é ousado. É de dia e é de noite", afirmou Carrasco. "Não é porque a
polícia está deixando de coibir o
crime. Estamos cumprindo o nosso papel", ressaltou.
O titular da Delegacia Seccional
Sul, Olavo Reino Francisco, também disse que não tinha informações sobre dados estatísticos de
sua região, mas responsabilizou o
tráfico por 90% das ocorrências
de homicídio doloso.
"São acertos de contas entre traficantes, muito frequentes nos finais de semana", afirmou Francisco. O pico de ocorrências de
homicídio em sua área, cruzando
dados de dia da semana e período,
foi, porém, terça-feira à noite,
com dez ocorrências, em um total
de 92, no primeiro trimestre deste
ano, de acordo com dados da polícia. O delegado desconhecia essa
informação.
Na opinião do delegado Antonio Novaes de Paula Santos, titular da Delegacia Seccional Leste,
os dados podem ser uma mera
coincidência. "Não conheço uma
razão palpável. Eu só posso computar isso a uma coincidência.
Não há uma explicação lógica."
O delegado operacional da Delegacia Seccional Norte, Jorge Esper, admite que o sentimento de
impunidade pode ser um elemento de motivação ao crime. "Um
cara mata outro, ele não vê uma
viatura, ninguém vai na casa, ninguém investiga, no dia seguinte
ele está no mesmo lugar, prontinho para matar de novo", afirmou Esper.
Lentidão
Policiais afirmam que tanto a
prevenção quanto a investigação
de homicídios dolosos são lentas e
complexas, o que justificaria o fato de o índice de esclarecimento
desses crimes ocorridos entre os
anos de 1995 e 2000 ficar em 42%.
"O homicídio doloso a gente
não consegue prever. Pode fechar
bares sem alvará, mas não vai
conseguir evitar os conflitos", disse Francisco. Para o delegado Esper, não há como evitar os conflitos ocasionais. "Quando há uma
rixa, na hora em que se encontram, um vai matar o outro, não
importa se é de dia ou de noite."
Os delegados das Seccionais de
Itaquera e de São Mateus não quiseram falar sobre os dados de homicídio. O da Seccional Oeste não foi localizado pela reportagem.
(GILMAR PENTEADO)
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