São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Para eles, a grande incidência de casos de homicídio doloso continua restrita aos finais de semana e ao período noturno

Delegados desconheciam as estatísticas

DA REPORTAGEM LOCAL

Delegados seccionais de polícia ouvidos pela Folha desconheciam os dados e as estatísticas sobre a ocorrência de homicídios dolosos em São Paulo. Para eles, a grande incidência dos casos continua restrita aos finais de semana e ao período noturno.
O titular da Delegacia Seccional do Centro de São Paulo, Jorge Carlos Carrasco, diz-se surpreso ao saber que 20% das ocorrências de homicídio doloso em sua região, de janeiro a março de 2002, ocorreram no período da manhã.
"Não tinha dado atenção para isso", afirmou o delegado. Carrasco disse que vai fazer um levantamento dos boletins de ocorrência para saber se esse percentual "é coincidência ou não".
Carrasco afirmou que a grande movimentação no centro da cidade durante a manhã deve justificar essa concentração de casos. "São 4 milhões de pessoas que transitam por dia no centro da cidade", disse o delegado.
Mas, para ele, os casos de homicídio doloso à luz do dia não são motivados pelo sentimento de impunidade. "O criminoso é ousado. É de dia e é de noite", afirmou Carrasco. "Não é porque a polícia está deixando de coibir o crime. Estamos cumprindo o nosso papel", ressaltou.
O titular da Delegacia Seccional Sul, Olavo Reino Francisco, também disse que não tinha informações sobre dados estatísticos de sua região, mas responsabilizou o tráfico por 90% das ocorrências de homicídio doloso.
"São acertos de contas entre traficantes, muito frequentes nos finais de semana", afirmou Francisco. O pico de ocorrências de homicídio em sua área, cruzando dados de dia da semana e período, foi, porém, terça-feira à noite, com dez ocorrências, em um total de 92, no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados da polícia. O delegado desconhecia essa informação.
Na opinião do delegado Antonio Novaes de Paula Santos, titular da Delegacia Seccional Leste, os dados podem ser uma mera coincidência. "Não conheço uma razão palpável. Eu só posso computar isso a uma coincidência. Não há uma explicação lógica."
O delegado operacional da Delegacia Seccional Norte, Jorge Esper, admite que o sentimento de impunidade pode ser um elemento de motivação ao crime. "Um cara mata outro, ele não vê uma viatura, ninguém vai na casa, ninguém investiga, no dia seguinte ele está no mesmo lugar, prontinho para matar de novo", afirmou Esper.

Lentidão
Policiais afirmam que tanto a prevenção quanto a investigação de homicídios dolosos são lentas e complexas, o que justificaria o fato de o índice de esclarecimento desses crimes ocorridos entre os anos de 1995 e 2000 ficar em 42%.
"O homicídio doloso a gente não consegue prever. Pode fechar bares sem alvará, mas não vai conseguir evitar os conflitos", disse Francisco. Para o delegado Esper, não há como evitar os conflitos ocasionais. "Quando há uma rixa, na hora em que se encontram, um vai matar o outro, não importa se é de dia ou de noite."
Os delegados das Seccionais de Itaquera e de São Mateus não quiseram falar sobre os dados de homicídio. O da Seccional Oeste não foi localizado pela reportagem. (GILMAR PENTEADO)


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