São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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Extremo sul não segue tendência de queda

DA REPORTAGEM LOCAL

As megablitze e a compra de carros e armas para a polícia, promovidas pelo governo do Estado, não têm surtido efeito no extremo sul de São Paulo. Na contramão das delegacias seccionais de polícia, que registram uma tendência de queda dos homicídios dolosos, a região de Santo Amaro apresentou um aumento de 7,5% dos casos no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar de liderar o número de casos nos últimos anos, a Delegacia Seccional de Santo Amaro vinha baixando as estatísticas nesse tipo de crime. Tanto que, no primeiro trimestre de 2001, houve uma queda de 6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para a comunidade da região, é fácil entender os motivos desse crescimento. Em vez de mais armas e carros de polícia, os moradores reivindicam prontos-socorros, creches e escolas.
"Num local tão violento como este, não seria a primeira coisa a ter? Isso é um total contra-senso", questionou a educadora Petronela Booner, do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo, a respeito de falta de prontos-socorros na região.
Ela cita o exemplo do Jardim Ângela, um dos locais mais perigosos da região. Segundo a educadora, o pronto-socorro mais próximo fica a 25 quilômetros. "Em tempo de campanha eleitoral, todo mundo quer ver polícia na rua, mas só isso não resolve", criticou a educadora.
O Fórum em Defesa da Vida e contra a Violência, da qual o centro faz parte, realizou um tribunal popular no último final de semana e deu um prazo de 30 dias para que a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado tomem duas providências: construam prontos-socorros e mais bases comunitárias da Polícia Militar no Jardim Ângela -já existem duas.
"Se o pedido não for atendido, vamos entrar com ações judiciais para cobrar isso das autoridades", afirmou a educadora.
Para ela, não adianta aumentar a repressão em uma região da cidade marcada pelo desemprego. "O que resolve colocar mais policiais para vigiar uma região na qual 20% da população economicamente ativa está desempregada? Esse espetáculo não resolve", disse Petronela.
O delegado seccional de Santo Amaro, Darci Sassi, que assumiu o posto na última segunda-feira, também aponta erros. "Se você deixa a sua casa abandonada, alguém vai e toma a sua casa. Se houve aumento de homicídios, é porque alguém deixou alguma coisa abandonada, cometeu um deslize. Não sei se foi a polícia, se foi a prefeitura, só sei que vou retomar o local", disse.
Sassi concorda com a educadora de que só o policiamento não vai diminuir os índices de violência. "Nas áreas mais carentes, a vida vale muito pouco", disse.
O fechamento de bares que têm maior incidência de brigas e o combate ao tráfico são prioridades imediatas. Porém Sassi reconhece a necessidade de ações sociais. "Vou procurar as ONGs e a Secretaria da Assistência Social para fazer um trabalho integrado", disse o delegado. (GP)


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