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RIO
Em 27 anos, secretaria estadual teve 18 titulares; de 1995/1996 para 1999/2000, repetência aumentou de 20,3% para 24,2%
Alta rotatividade leva crise à educação
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No Rio de Janeiro, é difícil encontrar profissão mais instável do
que a de secretário da Educação
do Estado. Com a posse de William Campos na secretaria no
início deste mês, ele é o décimo a
ocupar o cargo desde 1994, o que
dá uma média de permanência de
menos de um por ano na função.
Essa rotatividade já mostra seus
efeitos em quesitos como repetência, item em que o Estado do
Rio registrou aumento.
Segundo levantamento da ex-secretária Lia Faria, o Estado do
Rio teve 18 secretários nos últimos 27 anos, o que dá uma média
histórica de um secretário a cada
um ano e meio desde 1975.
Provavelmente, o tempo de permanência de Campos ajudará a
manter essa média, já que ele foi
nomeado pela governadora Benedita da Silva (PT), que assumiu o
cargo no início do mês após a saída de Anthony Garotinho (PSB).
O mandato petista terminará no
fim do ano, totalizando nove meses. Caso o PT não saia vitorioso
nas eleições estaduais, é provável
que Campos, se durar até o final
do mandato, passe o cargo para o
11º secretário em dez anos.
Com tantas mudanças em pouco tempo, o Rio passou a andar na
contramão do país em alguns indicadores de qualidade e a sofrer
com a descontinuidade das políticas para o setor.
Um dos piores indicadores do
Estado é o de repetência. Dados
do Ministério da Educação mostram que foi a única unidade da
Federação a apresentar aumento
na taxa de 1995/1996 para 1999/
2000. Com isso, o Estado passou a
apresentar um índice de repetência maior do que o do Ceará, o
melhor do Nordeste nesse item.
Enquanto em todo o Brasil a taxa de repetência no período caiu
de 30,2% para 21,6%, no Rio aumentou de 20,3% para 24,2%. A
taxa do Ceará, que era de 27,4%,
caiu para 21,4%.
A falta de planejamento faz com
que o Estado gaste mais. Um
exemplo recente aconteceu quando a secretaria, na gestão de Lia
Faria, alugou em 2000 cerca de 50
imóveis de escolas particulares
para atender aos que não conseguiram vagas na rede estadual.
Em 1994, o Rio tinha 229 mil
alunos na rede estadual de ensino
médio. Em 2001, esse número
mais do que dobrou, chegando a
535 mil. "Não houve um planejamento anterior de construção de
escolas para atender a esse crescimento. Com isso, logo que assumi, tive que buscar uma solução
urgente para não deixar jovens fora da escola. A equipe que estava
cuidando do assunto tinha saído
do governo", disse Lia.
Com a urgência, alguns imóveis
foram alugados com preços acima do mercado. Uma sindicância
feita pela sucessora de Lia, Darcília Leite, mostrou que, em 13 casos, os aluguéis, que somavam R$
225.400, estavam em situação irregular e precisariam ser revistos.
Outro problema para o Estado,
e que vem passando de secretário
para secretário sem solução, é a
implementação do plano de cargos e salários, aprovado em 1990,
no caso dos professores, e em
1988, no caso dos funcionários.
Esse é o principal motivo da greve
que já dura mais de 50 dias.
Apesar de ser lei, nenhum dos
secretários na última década conseguiu colocar em prática o plano,
argumentando que ele comprometeria as contas públicas.
Para a ex-secretária Ana Galheigo, a troca constante de secretários prejudicou a educação no
Rio. "Não dá tempo para fazer
planejamento estratégico. Em
educação, há coisas que você precisa de mais tempo para colocar
nos eixos. Mas cada novo secretário tenta inventar a roda sem se
preocupar em avaliar o que o outro fez", disse Ana. Para ela, o processo de autonomia das escolas é
a saída para que a rede sofra menos com as trocas.
Lia Faria propõe a mobilização
de todos os ex-secretários para
que se conte a história oral da
educação no Rio, a fim de entender melhor o impacto dessa instabilidade na área.
O novo secretário, com previsão
de apenas nove meses para tocar
os projetos, afirma que é possível
fazer coisas que durem. "O plano
de cargos e salários dos professores é uma ação que pretendemos
deixar consolidada. Além disso,
vamos integrar a secretaria, as
coordenadorias e as escolas, que
participarão de um congresso que
definirá rumos para a educação
no Estado", disse Campos.
A governadora afirmou ontem
que o Estado não têm condições
de fazer uma contraproposta para
os professores, em greve há quase
dois meses.
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