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Ação tem mais efeito colateral que resultado
Número de mortos desde o início da ocupação policial, 17 no total, impressiona mais que o de presos, que chega a dez
Maioria das vítimas não é policial nem traficante: são moradores sem
ficha criminal nem ligações comprovadas com tráfico
MÁRCIA BRASIL
RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Passado um mês do início da
operação policial na Vila Cruzeiro (Penha, zona norte do
Rio), a ação apresenta mais
efeitos colaterais do que resultados. A Secretaria Estadual de
Segurança Pública informa ter
apreendido três fuzis e prendido dez suspeitos sem importância na hierarquia criminosa.
Impressiona mais que, dos 17
mortos e 55 feridos, a grande
maioria não seja policial nem
traficante: são moradores sem
ficha criminal ou ligações que
sejam comprovadas com a venda de drogas.
Também não se conseguiu
acabar com o tráfico, especialmente à noite, quando os policiais militares retiram-se para
o que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame,
chamou ontem de "contornos"
das favelas.
Essa retirada noturna, segundo ele, "propicia" o retorno
de traficantes que tenham fugido em momentos de confronto,
mas se justifica pela necessidade de se preservar a segurança
dos moradores.
"Temos de fazer uma vigilância mais afastada. Se fizermos
uma ação mais abafada, pode
gerar um conflito noturno, e isso é temerário", disse o secretário de Segurança.
Para as lideranças comunitárias, no entanto, já é suficientemente temerária a presença
constante dos Caveirões -como são popularmente conhecidos os carros blindados da
PM-, de onde policiais atiram
nos traficantes, mas também
acertam em inocentes que estão passando.
Barricadas
Por causa da topografia dos
locais e do forte poder de fogo
dos adversários, a polícia em
nenhum momento conseguiu
ocupar a Vila Cruzeiro e a Grota, outra área de conflito. Na
primeira, faz incursões durante
o dia e depois se retira. Na segunda, nem conseguiu entrar.
Óleo na pista e barricadas prejudicam a movimentação.
As duas favelas são lugares de
forte simbologia, pois, no dia 2
de junho de 2002, traficantes
pegaram na Vila Cruzeiro o jornalista Tim Lopes, então na Rede Globo, e o mataram na Grota
ao perceber que ele produzia
reportagem sobre a venda de
drogas no local.
O governo do Estado alega
que é importante manter o
combate no momento, porque
no complexo do Alemão estaria
o maior paiol da facção Comando Vermelho.
No entanto, segundo balanço
oficial divulgado na última
quarta-feira, os 1.104 policiais
militares empregados na ação
ainda não conseguiram recolher uma quantidade significativa de armas. Apreenderam
mais lixo: 150 toneladas em
barricadas para impedir o acesso do carro blindado da polícia.
Soldados mortos
O ponto de partida da ação
atual foram as mortes dos soldados Wilson Sant'Anna Lopes, do Bope (Batalhão de Operações Policiais) da PM, atingido na Vila Cruzeiro em 3 de
maio, além de Marco Antônio
Ribeiro e Marcos André Lopes,
mortos dois dias antes em Oswaldo Cruz (zona norte). Os assassinos estariam escondidos
na favela, segundo a polícia.
Ainda não foram presos.
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