São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

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Ação tem mais efeito colateral que resultado

Número de mortos desde o início da ocupação policial, 17 no total, impressiona mais que o de presos, que chega a dez

Maioria das vítimas não é policial nem traficante: são moradores sem ficha criminal nem ligações comprovadas com tráfico

MÁRCIA BRASIL
RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Passado um mês do início da operação policial na Vila Cruzeiro (Penha, zona norte do Rio), a ação apresenta mais efeitos colaterais do que resultados. A Secretaria Estadual de Segurança Pública informa ter apreendido três fuzis e prendido dez suspeitos sem importância na hierarquia criminosa. Impressiona mais que, dos 17 mortos e 55 feridos, a grande maioria não seja policial nem traficante: são moradores sem ficha criminal ou ligações que sejam comprovadas com a venda de drogas.
Também não se conseguiu acabar com o tráfico, especialmente à noite, quando os policiais militares retiram-se para o que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, chamou ontem de "contornos" das favelas.
Essa retirada noturna, segundo ele, "propicia" o retorno de traficantes que tenham fugido em momentos de confronto, mas se justifica pela necessidade de se preservar a segurança dos moradores.
"Temos de fazer uma vigilância mais afastada. Se fizermos uma ação mais abafada, pode gerar um conflito noturno, e isso é temerário", disse o secretário de Segurança.
Para as lideranças comunitárias, no entanto, já é suficientemente temerária a presença constante dos Caveirões -como são popularmente conhecidos os carros blindados da PM-, de onde policiais atiram nos traficantes, mas também acertam em inocentes que estão passando.

Barricadas
Por causa da topografia dos locais e do forte poder de fogo dos adversários, a polícia em nenhum momento conseguiu ocupar a Vila Cruzeiro e a Grota, outra área de conflito. Na primeira, faz incursões durante o dia e depois se retira. Na segunda, nem conseguiu entrar. Óleo na pista e barricadas prejudicam a movimentação.
As duas favelas são lugares de forte simbologia, pois, no dia 2 de junho de 2002, traficantes pegaram na Vila Cruzeiro o jornalista Tim Lopes, então na Rede Globo, e o mataram na Grota ao perceber que ele produzia reportagem sobre a venda de drogas no local.
O governo do Estado alega que é importante manter o combate no momento, porque no complexo do Alemão estaria o maior paiol da facção Comando Vermelho.
No entanto, segundo balanço oficial divulgado na última quarta-feira, os 1.104 policiais militares empregados na ação ainda não conseguiram recolher uma quantidade significativa de armas. Apreenderam mais lixo: 150 toneladas em barricadas para impedir o acesso do carro blindado da polícia.

Soldados mortos
O ponto de partida da ação atual foram as mortes dos soldados Wilson Sant'Anna Lopes, do Bope (Batalhão de Operações Policiais) da PM, atingido na Vila Cruzeiro em 3 de maio, além de Marco Antônio Ribeiro e Marcos André Lopes, mortos dois dias antes em Oswaldo Cruz (zona norte). Os assassinos estariam escondidos na favela, segundo a polícia. Ainda não foram presos.


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