São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

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Ex-militares de elite treinavam traficantes, suspeita a polícia

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Uma quadrilha composta de ex-integrantes de tropa de elite do Exército foi presa ontem, em uma operação policial construída com base em informações colhidas pelo serviço de inteligência. Eles seriam responsáveis por dar lições de guerrilha para "soldados" de facções criminosas do Rio.
Até o início da noite de ontem, os presos prestavam depoimento à polícia e a Folha não tinha tido acesso aos advogados de defesa.
Os sete traficantes foram presos pela manhã em uma casa no bairro Jardim Carioca, na Ilha do Governador (zona norte). Eles usariam a casa como base para retomar os pontos de droga no morro do Dendê, também na Ilha.
Segundo a polícia, a quadrilha era formada por cinco ex-militares e um funcionário público estadual, além do dono da casa. O grupo saiu do complexo do Alemão, na Penha (zona norte). Foram apreendidos cinco fuzis e quatro pistolas.
Um dos cinco ex-militares é suspeito, como atirador de elite, de ter matado o soldado do Bope (Batalhão de Operações Especiais), Wilson Sant'Anna Lopes, 28, no complexo do Alemão no dia dois de maio.
Entre os presos -cinco deles ex-pára-quedistas- está Marcelo Soares de Medeiros, 34, conhecido como Marcelo PQD.
Ex-chefe do tráfico no morro do Dendê, ele era foragido desde o fim de 2006, quando passou a cumprir pena em regime semi-aberto (apenas dorme na prisão), saiu para visitar parentes e não voltou.
Segundo a polícia, PQD, que era um dos chefes do Terceiro Comando, estava refugiado no complexo do Alemão. Em troca da proteção, PQD passou a ser integrante do Comando Vermelho, que controla a venda de drogas no Alemão.
Ex-militar, PQD também usaria táticas de guerrilha no treinamento de soldados do tráfico no Alemão. Na ocasião de sua prisão, em 1999, o traficante mantinha uma academia em casa. Praticar exercícios é uma obsessão de PQD.
Ainda segundo a polícia, desde janeiro o traficante planejava retomar o Dendê.
Os policiais receberam a informação sobre a tentativa de invasão do Dendê no fim da noite de anteontem e montaram um cerco nos acessos ao morro. Horas depois, os policiais localizaram a casa que servia de base para quadrilha. O cerco durou quase nove horas. Houve troca de tiros, mas não há informações sobre feridos. No início da manhã, a quadrilha se rendeu.
A mulher de PQD foi a principal negociadora da rendição entre a quadrilha e a polícia.
Outro preso é o arquivista Roni Ribeiro, prestador de serviço da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro) desde março desse ano. Ribeiro está lotado na Comissão de Defesa do Consumidor da Alerj.
Ao ser informada, ontem, da participação de Ribeiro na quadrilha de PQD, a deputada Cidinha Campos, do PDT, presidente da Comissão, demitiu o arquivista.


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