São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO AMEAÇADO

Despacho autoriza desocupação de 25 famílias do casarão para que construção seja derrubada

Palacete no centro corre risco de demolição

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um palacete protegido como patrimônio histórico de São Paulo corre o risco de ser demolido. Despacho da 15ª Vara Cível de São Paulo autoriza a desocupação dos moradores do imóvel, localizado no bairro de Campos Elíseos, no centro, "para possibilitar a demolição em vista do noticiado risco iminente de desabamento".
Vinte e cinco famílias moram no local, hoje transformado em cortiço. A luz elétrica é fornecida aos quartos por meio de gambiarras e por entre as frestas do teto é possível ver o céu.
A construção consta de uma lista elaborada pelo Condephaat (órgão estadual do patrimônio histórico) como em processo de tombamento.
Apesar de a medida não ter sido homologada pela Secretaria da Cultura, o simples início do processo de tombamento já protege o bem contra intervenções que possam descaracterizá-lo, afirma o presidente do Condephaat, José Roberto Melhem.
Na esfera municipal, o imóvel também não pode ser demolido. Ele está perto do casarão onde morou Dino Bueno, presidente da província de São Paulo, que é tombado pelo Conpresp (conselho municipal do patrimônio). Esse tombamento se estende ao entorno, onde está localizado o casarão sujeito a demolição.
Os moradores negam que o local corra risco de desabamento. "O piso e o telhado estão ruins, mas as paredes estão em perfeito estado e podem ser recuperadas", afirma a moradora Neurisangela Henrique de Sousa, 23.
De acordo com os moradores, o autor do pedido de desocupação e demolição é Avelino Simões, apontado por eles como proprietário do imóvel.
Simões, que vive em um quarto no segundo andar do casarão, afirma que "dizem" que ele é o dono -os antigos proprietários do imóvel, diz, lhe deram autorização verbal para cuidar da casa, que, depois, ele recebeu como herança. No despacho, porém, é dito que ele comprou o imóvel.
Ele nega ter pedido a desocupação e a demolição do imóvel na Justiça. De acordo com uma mulher que se identificou apenas como Carla e disse ser advogada e ter todos os documentos que comprovam que Simões é o dono, outra pessoa se passou por ele para pedir a demolição e o despejo. A reportagem não conseguiu fazer contato com o advogado indicado como representante de Simões no processo.

História
Construído em 1883, o casarão que corre risco de demolição na alameda Ribeiro da Silva pertencia, originalmente, ao barão do Rio Pardo, segundo levantamento realizado pelo Condephaat.
Na época, tratava-se de uma residência de alto padrão num bairro destinado à elite cafeeira.
A casa ficava a um canto do terreno, deixando o restante livre para as cocheiras e um jardim com árvores frutíferas -como a urbanização era recente, as casas localizadas na cidade mantinham aspectos da vida rural, como a presença de um pomar.
Alguns anos depois, o imóvel foi vendido ao conde de Serra Negra, que alugou o local para que ali fosse instalado um internato de rapazes: o colégio Sílvio Almeida. O internato funcionou de 1908 a 1913, quando passou a abrigar o 4º Batalhão de Caçadores.
Os antigos sinais aristocráticos que adornam o palacete, como os desenhos florais no ladrilho da varanda e detalhes decorativos em ferro e madeira, contrastam com a atual precariedade do imóvel. Pias, lustres e a banheira foram vendidos.
O mesmo teria ocorrido, segundos os moradores, com dois bustos femininos que enfeitavam as paredes externas da casa. No local, hoje restam apenas os contornos do antigo enfeite, que, para os moradores, representava a princesa Isabel.


Texto Anterior: Desarmamento: TSE se antecipa e prepara referendo
Próximo Texto: Administração: Gestão Serra põe Renda Mínima sob suspeita
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.