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PATRIMÔNIO AMEAÇADO
Despacho autoriza desocupação de 25 famílias do casarão para que construção seja derrubada
Palacete no centro corre risco de demolição
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um palacete protegido como
patrimônio histórico de São Paulo corre o risco de ser demolido.
Despacho da 15ª Vara Cível de
São Paulo autoriza a desocupação
dos moradores do imóvel, localizado no bairro de Campos Elíseos, no centro, "para possibilitar
a demolição em vista do noticiado
risco iminente de desabamento".
Vinte e cinco famílias moram
no local, hoje transformado em
cortiço. A luz elétrica é fornecida
aos quartos por meio de gambiarras e por entre as frestas do teto é
possível ver o céu.
A construção consta de uma lista elaborada pelo Condephaat
(órgão estadual do patrimônio
histórico) como em processo de
tombamento.
Apesar de a medida não ter sido
homologada pela Secretaria da
Cultura, o simples início do processo de tombamento já protege o
bem contra intervenções que possam descaracterizá-lo, afirma o
presidente do Condephaat, José
Roberto Melhem.
Na esfera municipal, o imóvel
também não pode ser demolido.
Ele está perto do casarão onde
morou Dino Bueno, presidente
da província de São Paulo, que é
tombado pelo Conpresp (conselho municipal do patrimônio).
Esse tombamento se estende ao
entorno, onde está localizado o
casarão sujeito a demolição.
Os moradores negam que o local corra risco de desabamento.
"O piso e o telhado estão ruins,
mas as paredes estão em perfeito
estado e podem ser recuperadas",
afirma a moradora Neurisangela
Henrique de Sousa, 23.
De acordo com os moradores, o
autor do pedido de desocupação e
demolição é Avelino Simões,
apontado por eles como proprietário do imóvel.
Simões, que vive em um quarto
no segundo andar do casarão,
afirma que "dizem" que ele é o
dono -os antigos proprietários
do imóvel, diz, lhe deram autorização verbal para cuidar da casa,
que, depois, ele recebeu como herança. No despacho, porém, é dito
que ele comprou o imóvel.
Ele nega ter pedido a desocupação e a demolição do imóvel na
Justiça. De acordo com uma mulher que se identificou apenas como Carla e disse ser advogada e
ter todos os documentos que
comprovam que Simões é o dono,
outra pessoa se passou por ele para pedir a demolição e o despejo.
A reportagem não conseguiu fazer contato com o advogado indicado como representante de Simões no processo.
História
Construído em 1883, o casarão
que corre risco de demolição na
alameda Ribeiro da Silva pertencia, originalmente, ao barão do
Rio Pardo, segundo levantamento realizado pelo Condephaat.
Na época, tratava-se de uma residência de alto padrão num bairro destinado à elite cafeeira.
A casa ficava a um canto do terreno, deixando o restante livre para as cocheiras e um jardim com
árvores frutíferas -como a urbanização era recente, as casas localizadas na cidade mantinham aspectos da vida rural, como a presença de um pomar.
Alguns anos depois, o imóvel foi
vendido ao conde de Serra Negra,
que alugou o local para que ali
fosse instalado um internato de
rapazes: o colégio Sílvio Almeida.
O internato funcionou de 1908 a
1913, quando passou a abrigar o 4º
Batalhão de Caçadores.
Os antigos sinais aristocráticos
que adornam o palacete, como os
desenhos florais no ladrilho da
varanda e detalhes decorativos
em ferro e madeira, contrastam
com a atual precariedade do imóvel. Pias, lustres e a banheira foram vendidos.
O mesmo teria ocorrido, segundos os moradores, com dois bustos femininos que enfeitavam as
paredes externas da casa. No local, hoje restam apenas os contornos do antigo enfeite, que, para os
moradores, representava a princesa Isabel.
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