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Epidemia da gripe suína transforma espirros em gafe
Simulando sintomas, atrizes convidadas pela Folha fazem teste do pânico no metrô e em shopping
Danilo Verpa/Folha Imagem
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A grávida Monica Santos fica de costas para a tosse da atriz
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
"Cuidado com o vão entre o
trem e a plataforma." Esse é
apenas um dos avisos que o Metrô veicula em seus trens. Porém, nessa temporada de gripe
suína, mais um poderia entrar:
"Não tussa ou espirre. Evite
constrangimentos."
A nova epidemia transformou a tosse e o espirro em sinônimo de assepsia de pessoas em
locais públicos. Aquele que tossir num elevador pode ser tratado como pária.
A Folha convidou as atrizes
Camila Oliveira Silva, 24, e Fabiula Antonini, 35, ambas saudáveis, a testar o nível de pânico causado pela gripe suína no
metrô e no shopping Iguatemi
de SP. Pelos trens, a missão era
tossir; no shopping, visitar lojas usando máscara cirúrgica.
Nos dois lugares as reações
foram opostas. No shopping, os
visitantes olhavam curiosamente, riam nervosamente e
até faziam brincadeirinhas.
O vendedor Marcelo Maciel,
33, atendeu Fabiula tranquilamente. Perguntou se ela tinha
vindo do exterior e como estava a situação por lá.
Já no metrô, a primeira reação das pessoas era enfiar a cara dentro da gola da blusa ou
enrolar um cachecol sobre o
nariz e a boca. Outras viravam
o rosto, trocavam de lugar, desviavam, reclamavam.
"Claro que fiquei assustada.
Faço parte do grupo de risco",
diz a grávida Monica Santos,
41, que cogita trocar o metrô
pelo ônibus no trajeto até o trabalho. "Pelo menos dá para
abrir a janela e o ar circula."
Apesar do incômodo, os
usuários não tinham o menor
cuidado em evitar tocar em locais onde as atrizes haviam levado as mãos. Um erro grosseiro, já que, segundo o infectologista Artur Timerman, estudos
europeus indicam que 60% dos
casos foram contraídos por
meio de objetos com secreções
de pessoas contaminadas.
"A reação é instintiva, mas
exagerada. Mesmo se você estiver com todos os sintomas, e
não estiver com falta de ar, não
é gripe suína."
A psicóloga Ana Bahia Bock
associa a reação das pessoas ao
fato de o novo vírus ter mudado nossa concepção sobre a gripe. "As pessoas não só descobriram uma nova gripe, mas ficaram sabendo que a gripe comum sempre matou. Aí, surgem reações descabidas, já que,
hoje, tudo que é inexplicável
em termos de saúde, é classificado como virose."
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