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LAR, DOCE LAR?
Há risco à saúde e à segurança de moradores; como posse não foi regularizada, prefeitura terá de arcar com R$ 21 mi
Laudo municipal exige reforma em 78% do Cingapura
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles estão com fissuras, infiltrações de água e esgoto e vazamentos de gás. Já não têm extintores
nem telhas. Esfacelou-se a pavimentação das ruas, quebraram-se
as bombas de abastecimento e
multiplicaram-se as gambiarras
de gás, água, luz e telefone. Isso
sem falar nos barracos, que avançaram sobre as áreas que deveriam ser livres, verdes e de lazer.
É essa a situação da maioria dos
prédios do Projeto Cingapura
-programa de verticalização de
favelas que virou bandeira política dos ex-prefeitos Paulo Maluf
(PPB) e Celso Pitta (PSL).
As conclusões sobre o estado de
deterioração dos conjuntos constam de um estudo feito pela própria Secretaria Municipal da Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sehab) -hoje nas mãos do
PT, que administra a cidade.
Pelos problemas listados acima,
os laudos concluem que 35 dos 45
empreendimentos (78% deles)
exigem reformas a curto prazo.
Na realidade, existem 39 empreendimentos -o mais antigo
deles construído há oito anos-,
mas alguns foram inaugurados
em duas fases e, então, precisam
ser separados para verificação de
seu estado de conservação.
Em alguns desses Cingapura,
como o Imigrantes e o Parque
Novo Mundo, a deterioração das
instalações elétricas e hidráulicas
já representa risco à segurança e à
saúde dos moradores, segundo os
laudos produzidos pelos engenheiros da Divisão Técnica de
Projetos e Obras da Coordenadoria de Verticalização de Favelas.
O risco à segurança se traduz na
situação favorável a curtos-circuitos e descargas elétricas de raios.
No caso dos problemas hidráulicos -como vazamentos-, eles
podem causar solapamento do
solo e contaminações diversas.
A análise sobre a situação dos
prédios ficou pronta no começo
de maio, e os editais de licitação
das duas primeiras reformas foram publicados em agosto. As
propostas das empresas interessadas deverão ser abertas esta semana -hoje e quinta-feira.
Reformas
A concorrência se destina à execução das obras de recuperação
dos Cingapura Imigrantes e Água
Branca. Eles não são os que estão
em pior estado, mas a prefeitura
diz não ter dinheiro para uma intervenção imediata nos conjuntos
em situação mais precária.
As reformas do Imigrantes e do
Água Branca custarão, respectivamente, R$ 536 mil e R$ 531 mil. Na
soma de todos os prédios, as
obras engolirão cerca de R$ 21 milhões dos cofres públicos -mas a
gestão petista não acredita que tenha recurso para fazer todas as intervenções até o final de 2004.
Reformar conjuntos habitacionais que já pertencem aos moradores não é uma responsabilidade do poder público. A prefeitura,
no entanto, terá de arcar com todo o gasto da reforma porque
muitas das construções dos Cingapura ainda são irregulares.
Como muitos dos prédios invadiram terras particulares ou áreas
públicas, eles ainda esbarram em
problemas de propriedade -que
deveriam ter sido superados até o
final de 1997, conforme contrato
assinado com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Como os prazos oficiais não
foram respeitados, e os moradores ainda não são mutuários, os
prédios seguem sendo públicos e
o município continua sendo responsável por qualquer coisa que
aconteça nessas construções e seja fruto da má conservação.
Com o dinheiro da reforma dos
35 conjuntos do Cingapura seria
possível construir mais 35 prédios
para atender outras 700 famílias.
"Optamos pela reforma antes
que algo aconteça. Não faria sentido discutir a responsabilidade pela manutenção dos conjuntos depois que algum incidente já tivesse ocorrido", diz Sérgio Gonçalves, coordenador de programas
da Superintendência de Habitação Popular da Sehab.
Os laudos da Sehab deram notas de zero (emergência) a dez
(ótimo) para a situação dos conjuntos a partir de dez variáveis
(veja quadro na pág. C3). Depois,
as variáveis foram agrupadas em
uma média. Só não precisam de
reforma imediata os conjuntos
que não tiveram nota inferior a
seis (regular) em nenhum item.
Além dessas reformas que ela
mesma identificou, a prefeitura
terá de executar também as obras
que possam vir a ser recomendadas pelos órgãos fiscalizadores,
aos quais ela terá que submeter os
prédios até o dia 4 de dezembro.
Os fiscais são as secretarias de
Habitação e Saúde, a Secretaria de
Estado do Meio Ambiente, a Cetesb (Companhia de Tecnologia e
Saneamento Ambiental), a Sabesp (Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo), o
Corpo de Bombeiros e a Eletropaulo (Eletricidade de São Paulo).
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