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Maior parte dos inadimplentes paga outras contas; prestações em atraso cobririam 81% do custo da reforma
Moradores devem R$ 17 mi à prefeitura
DA REPORTAGEM LOCAL
Os moradores dos conjuntos do
Cingapura devem à Prefeitura de
São Paulo exatamente R$
17.064.981. É isso o que 9.042 deles
-62,17% do total- deixaram de
pagar desde que se mudaram para os apartamentos. A prestação é
de R$ 57 por mês.
Se a prefeitura conseguir fazer
com que eles paguem os atrasados, poderá financiar com esse dinheiro 81% do custo total das reformas exigidas nos conjuntos.
A negociação desses débitos começou há três meses. Dos 9.042,
3.350 foram chamados para a renegociação e 2.255 apareceram.
Dos que apareceram, 1.500 renegociaram seus débitos. Do restante, 50% disseram não ter condições de pagar, mas a outra metade afirmou que prefere esperar
uma segunda chamada por motivos variados -porque quer ter
certeza da posse do apartamento,
porque teme o desemprego, porque quer ver para que direção andará o país etc.
Uma pesquisa que acaba de ser
concluída pela Secretaria Municipal da Habitação mostra que, dos
inadimplentes (conceito que só
inclui quem tem mais de três
prestações em atraso), 62,5% haviam pagado todas as demais
contas da casa naquele mês.
A pesquisa é feita anualmente
por exigência do BID, que financiou parte das obras dos conjuntos. Os dados agora organizados
foram coletados em 2001.
Renda, tráfico e exclusão
A renda familiar média nos Cingapura é de R$ 500, segundo dados desse mesmo monitoramento anual. Há, porém, 43,8% das famílias vivendo lá que estão abaixo
ou ligeiramente acima da linha da
miséria -ganham de zero a dois
salários mínimos mensais.
Algumas dessas famílias, mostra o mesmo estudo, têm mais de
seis membros -o que acontece
com 20% dos núcleos familiares
moradores do Cingapura.
O desemprego afeta 19,4% das
pessoas nos conjuntos. Dos que
estão empregados, a maioria
-56,5%- é formada por empregados domésticos, autônomos,
pessoas que vivem de bicos ou
que não têm carteira assinada.
A falta de emprego se reflete claramente na vida dos jovens:
14,3% das pessoas entre 15 e 24
anos não estudam nem trabalham nos conjuntos.
Muitos deles, admitem os líderes comunitários, servem ao tráfico, que domina boa parte dos empreendimentos, segundo a própria prefeitura. "É um poder paralelo", resume Sérgio Gonçalves,
da Secretaria da Habitação.
O governo desconfia que, por
causa do tráfico, 46 unidades habitacionais estejam vazias e que
sobre outras 355, os pesquisadores não tenham conseguido obter
informações. Há registro de casos
nos quais os traficantes distribuíram televisores para que a população mantivesse a lei do silêncio.
A insegurança com relação à
violência aparece entre os cinco
principais problemas dos conjuntos na opinião dos moradores.
Perde apenas para a falta de áreas
verdes e de lazer e para a ausência
do poder público.
(SÍLVIA CORRÊA)
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