São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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Maior parte dos inadimplentes paga outras contas; prestações em atraso cobririam 81% do custo da reforma

Moradores devem R$ 17 mi à prefeitura

DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores dos conjuntos do Cingapura devem à Prefeitura de São Paulo exatamente R$ 17.064.981. É isso o que 9.042 deles -62,17% do total- deixaram de pagar desde que se mudaram para os apartamentos. A prestação é de R$ 57 por mês.
Se a prefeitura conseguir fazer com que eles paguem os atrasados, poderá financiar com esse dinheiro 81% do custo total das reformas exigidas nos conjuntos.
A negociação desses débitos começou há três meses. Dos 9.042, 3.350 foram chamados para a renegociação e 2.255 apareceram.
Dos que apareceram, 1.500 renegociaram seus débitos. Do restante, 50% disseram não ter condições de pagar, mas a outra metade afirmou que prefere esperar uma segunda chamada por motivos variados -porque quer ter certeza da posse do apartamento, porque teme o desemprego, porque quer ver para que direção andará o país etc.
Uma pesquisa que acaba de ser concluída pela Secretaria Municipal da Habitação mostra que, dos inadimplentes (conceito que só inclui quem tem mais de três prestações em atraso), 62,5% haviam pagado todas as demais contas da casa naquele mês.
A pesquisa é feita anualmente por exigência do BID, que financiou parte das obras dos conjuntos. Os dados agora organizados foram coletados em 2001.

Renda, tráfico e exclusão
A renda familiar média nos Cingapura é de R$ 500, segundo dados desse mesmo monitoramento anual. Há, porém, 43,8% das famílias vivendo lá que estão abaixo ou ligeiramente acima da linha da miséria -ganham de zero a dois salários mínimos mensais.
Algumas dessas famílias, mostra o mesmo estudo, têm mais de seis membros -o que acontece com 20% dos núcleos familiares moradores do Cingapura.
O desemprego afeta 19,4% das pessoas nos conjuntos. Dos que estão empregados, a maioria -56,5%- é formada por empregados domésticos, autônomos, pessoas que vivem de bicos ou que não têm carteira assinada.
A falta de emprego se reflete claramente na vida dos jovens: 14,3% das pessoas entre 15 e 24 anos não estudam nem trabalham nos conjuntos.
Muitos deles, admitem os líderes comunitários, servem ao tráfico, que domina boa parte dos empreendimentos, segundo a própria prefeitura. "É um poder paralelo", resume Sérgio Gonçalves, da Secretaria da Habitação.
O governo desconfia que, por causa do tráfico, 46 unidades habitacionais estejam vazias e que sobre outras 355, os pesquisadores não tenham conseguido obter informações. Há registro de casos nos quais os traficantes distribuíram televisores para que a população mantivesse a lei do silêncio.
A insegurança com relação à violência aparece entre os cinco principais problemas dos conjuntos na opinião dos moradores. Perde apenas para a falta de áreas verdes e de lazer e para a ausência do poder público. (SÍLVIA CORRÊA)


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