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São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Bilhetes revelam até intenção de atacar estação de metrô; para Ministério Público, ala radical continua na ativa

Polícia desvenda plano terrorista do PCC

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da repressão policial, integrantes da ala radical do PCC (Primeiro Comando da Capital) continuam em atividade e, segundo o Ministério Público, planejavam novos atentados, entre eles explodir uma estação de metrô em São Paulo. Bilhetes encontrados pela polícia e por promotores também mostram que líderes da facção, mesmo isolados no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), continuavam recebendo informações e dando ordens, inclusive para matar.
A prisão anteontem do advogado Mário Sérgio Mungioli, defensor do preso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da facção criminosa, encerrou uma investigação iniciada havia 15 dias.
Com o advogado, preso logo depois de visitar Marcola, que está em RDD no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes (interior de SP), policiais encontraram bilhetes que revelam o sistema de comunicação usado por lideranças da facção. Por esse sistema estariam sendo planejados novos atentados.
Segundo o promotor Márcio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Mungioli foi a Presidente Bernardes repassar várias informações a Marcola e avisá-lo de um plano de execução de novos atentados elaborado por integrantes de uma ala mais radical da facção.
Entre as ações, estaria um atentado contra a estação de metrô Jabaquara (zona sul), a explosão de uma torre de energia e o sequestro de uma autoridade estadual para chantagear o governo.
Escutas telefônicas e investigação do Gaeco mostraram que o mentor do plano seria o preso Alexandre Francisco Sandorfy, conhecido como X, integrante da ala mais radical da facção e que está no RDD em Avaré. A intenção seria demonstrar força e amenizar o rigor do governo com líderes da facção.
Segundo o promotor Roberto Porto, do Gaeco, apesar de planejar os atentados, X precisava de autorização de Marcola -por isso o advogado foi acionado.
Mungioli, diz Porto, estava sendo monitorado há 15 dias. Ele teria deixado cair, em uma das visitas em Presidente Bernardes, um bilhete no qual consulta Júlio Cesar Guedes de Moraes, o Julinho Carambola -outro líder isolado em Presidente Bernardes-, se deveria continuar com o sistema.
Policiais do Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado) e promotores desconfiaram quando o advogado foi visitar X em Avaré, dez dias atrás. Anteontem, Mungioli foi visitar Marcola e, na saída, foi preso com três bilhetes, todos supostamente feitos por ele.
No primeiro, datilografado, o advogado retransmitiria seis informes e pedidos de autorização. Entre eles, Marcola é informado de que R$ 40 mil foram coletados para a compra de uma metralhadora. A aquisição de um lança-granadas -que, segundo o Gaeco, poderia ser usado nos atentados- também foi informada a Marcola.
No segundo bilhete, Mungioli teria anotado as respostas do líder. No último item, um pedido a mais de Marcola: usar "todos os recursos" para localizar no sistema prisional e matar José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roris da Silva, o Cesinha, ex-líderes do PCC jurados de morte.
O terceiro bilhete traz cifras supostamente escritas pelo advogado que, segundo o Gaeco, confirmam os atentados. Um risco no "S" entre os pontos cardeais desenhados significaria a estação Jabaquara, que fica na zona sul. "Um atentado em uma estação de metrô poderia causar muitas mortes", avaliou Porto.
No parlatório de Presidente Bernardes não há contato físico. Preso e advogado são separados por um vidro. Não há isolamento de som, segundo a Promotoria. Marcola leria as mensagens e depois transmitiria suas decisões.
"Isso mostra que líderes, apesar de isolados, continuam no controle da facção", disse Christino.


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